Sportbuzz
Busca
Facebook SportbuzzTwitter SportbuzzYoutube SportbuzzInstagram SportbuzzTelegram SportbuzzSpotify SportbuzzTiktok Sportbuzz
Fórmula 1 / EXCLUSIVA SPORTBUZZ

"Todo mundo tem um pouco do Ayrton Senna dentro de si", diz Casagrande

Comentarista e ex-jogador do Corinthians concedeu entrevista exclusiva ao SportBuzz para falar sobre o ídolo nacional e a sua relação com o time alvinegro

"Todo mundo tem um pouco do Ayrton Senna dentro de si" - SportBuzz
"Todo mundo tem um pouco do Ayrton Senna dentro de si" - SportBuzz

Ayrton Senna é um marco inigualável na história do automobilismo; mas isso já é consenso entre todos que já foram tocados pela trajetória do piloto. O semblante pacífico em contraste com a sua agressividade no volante convidava um país (e um planeta) inteiro a acompanhá-lo nas pistas, onde desafiava adversários, dominava a chuva e se sagrava em glória eterna, mesmo que ele ainda não tivesse ciência disso.

A figura de Senna não reverbera somente no automobilismo. Além do carisma e representatividade oferecidos pelo tricampeão mundial, sua mentalidade, raça e vontade de vencer servem para inspirar outras modalidades no esporte, como o futebol. Ayrton era torcedor assumido do Corinthians, a ponto de usar o manto alvinegro por baixo do macacão de corrida. O clube, por sua vez, honra a memória do ícone que deixou o país de luto há 30 anos.

Embora a ligação com o piloto lendário e seu time do coração seja de conhecimento público, pouco se analisa o lado torcedor como parte influente na carreira dentro do automobilismo. O encontro entre os dois universos é possível de ser percebido. A seguir, trechos da entrevista concedida por Walter Casagrande Jr, ídolo do Timão e fã de Senna, para SportBuzz e Aventuras na História.

O que existe sobre o Ayrton Senna, para além da habilidade técnica nas pistas, que sustenta a sua ‘mística’ até hoje?

WALTER CASAGRANDE JR. (WCJ): O Ayrton tem uma simpatia muito grande, mundialmente. É uma coisa de estrela. Ele tinha uma luz, em qualquer lugar, com qualquer torcida, um carisma muito forte. Tem muitos caras que são tão ídolos quanto ele, ou mais, mas não são tão importantes pela falta de carisma.

É possível imaginar um Brasil apaixonado pelo automobilismo novamente?

WCJ: As coisas não se repetem. Pode ter um outro piloto, uma outra situação, mas comparar com o Ayrton Senna é uma outra história. Mesmo que apareça alguém, nunca vai ser de fato melhor, para nós, do que aquele que idolatramos por vários motivos fortes.

O Senna conseguiu vitórias “impossíveis”. Isso se conecta com a essência do Corinthians?

WCJ: O Ayrton tinha foco, era ousado e corajoso. Não gostava de perder. Ele sempre tentava a vitória. Historicamente, o Corinthians é um time que nunca desiste. Essa parte se une mesmo com as características do Senna, mas, obviamente, não é isso que liga ele ao Corinthians; o que liga é o fato de ele ser corintiano, colocar a camisa do time por baixo do macacão e aparecer com ela.

Senna foi bicampeão consecutivo da Fórmula Ford no começo da década de 1980, e o Corinthians também faturou duas taças no Paulista, na época da Democracia Corinthiana. Essa ascensão conjunta das histórias fortalece o vínculo entre o piloto e o clube?

WCJ: Falamos isso hoje porque olhamos para trás, quando tudo já aconteceu. Na época da Democracia Corinthiana, tinha um foco completamente diferente, uma preocupação política-social em relação às eleições que teriam para o Governo pela primeira vez depois do golpe. Tinha uma grande parte do país que era a favor da ditadura militar e via a gente como um alvo. Nossa arma era jogar bem, vencer e ser campeão. Não estávamos vendo muito o que acontecia ao nosso redor.

É claro que para o Ayrton talvez fosse uma coisa com a qual ele tenha se identificado muito. Porque ele viu tudo acontecer, e provavelmente estava gostando daquilo que via. Talvez a Democracia Corinthiana tenha sido, naquele momento, uma alavancada importante para o Ayrton corintiano, não para o Ayrton piloto. Ela possivelmente teve uma influência muito grande na paixão pelo clube, eu acredito que isso pode ter acontecido.

É possível estabelecer papéis semelhantes de conexão com o público tanto por parte de Senna quanto por parte de um clube com a história do Corinthians, mesmo que de formas distintas?

WCJ: A gente se apega aos nossos ídolos, como foi com o Guga, Ayrton Senna, obviamente, Pelé… Até o Maguila teve a fase dele, em que todo mundo parava no domingo para ver ele lutar, porque ia ganhar. Era Maguila ganhando, Ayrton ganhando, Corinthians ganhando. Isso fortalecia.

Dava orgulho para o povo. A influência do esporte dentro da sociedade brasileira quando se alcança ídolos eternos, ou momentâneos, tem uma relação direta no ânimo, no estado de espírito da sociedade.

No programa ‘Roda Viva’, em 1986, Senna disse que o brasileiro só pensa no campeão. A frase ainda é válida?

WCJ: Sem dúvida. O brasileiro foi desportivamente acostumado, principalmente depois do primeiro título mundial de 58 (na Copa do Mundo FIFA). Aí já teve 62, e o tricampeonato em 70, aquele número enorme de jogadores espetaculares, Emerson Fittipaldi ganhando na Fórmula 1… o povo foi educado, de uma forma esportiva, para vencer. E até hoje é assim.

O Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, revelou em entrevista recente que o seu único ídolo no esporte é o Ayrton Senna. Como a trajetória do ícone do automobilismo pode ressoar no futebol?

WCJ: O Abel não desiste nunca. O Palmeiras pode não jogar bem um dia, pode não ser espetacular, mas o mental é preparado. Raramente o Palmeiras tem a queda. E quando ele estava praticamente descartado em 2023, o time venceu o Campeonato Brasileiro.

E eu penso que o Senna era assim na Fórmula 1. Em uma corrida que todo mundo ficava com medo de acelerar, na chuva, o cara passava com tudo. Enquanto os outros administravam, ele pisava. Acho que todo mundo tem um pouco do Ayrton dentro de si, cada um obviamente em tamanhos diferentes.

O Corinthians prestou e segue prestando várias homenagens a Ayrton. Existe algo semelhante para qualquer outro esportista fora do futebol feito por um clube no Brasil?

WCJ: No Brasil, não. O Ayrton é o cara fora do futebol, repleto de homenagens, lembranças. Até porque morreu dentro de uma corrida, da forma que foi, com uma grande comoção, todo mundo assistindo de manhã. Eu estava no sofá sentado, assistindo à corrida e vi a batida. Nem fui almoçar, fiquei sentado esperando notícias, o Brasil todo ficou. O Ayrton é uma coisa nacional. O Corinthians faz mais homenagens porque ele era corintiano, mas ele é lembrado por todo o país e por todo o mundo em vários momentos.

Qual é o maior legado que Senna pode ter deixado para o esporte no Brasil e no mundo?

WCJ: O Ayrton Senna foi o Pelé da Fórmula 1. É o cara que colocou o Brasil no topo da montanha e segurou lá em cima no tempo em que ele estava vivo. Quando você fala de Brasil, o primeiro nome que vem é Pelé, e o segundo é Ayrton Senna. Eu sou de uma época em que eu viajava para fora e as pessoas perguntavam de onde eu era: “Brasil? Pelé!”. 

Depois de um tempo, virou Brasil, Pelé e Ayrton Senna. Você pode ser reconhecido por eles e bem tratado em qualquer lugar do mundo. A porta está aberta, a simpatia está aí. As pessoas olham para você e nem te conhecem, mas te admiram pelo Brasil do Pelé e do Ayrton Senna. Eu acho que isso tem um peso muito grande, é uma conquista pessoal que dificilmente algum brasileiro vai alcançar no esporte.

Assista ao bate-papo na íntegra: