A influência de Neymar sobre a mídia brasileira é um fenômeno que vai muito além do futebol. Ele é um jogador tão gigantesco, em história, repercussão e polarização, que até a dinâmica do jornalismo esportivo parece mudar quando o assunto é ele. Quando o camisa dez joga mal, as críticas aparecem em peso, prontas para ocupar horas de debate na televisão e páginas de portais.
Mas quando ele joga bem, quando decide partidas, quando entrega desempenho acima da média, o silêncio costuma ser a resposta dominante. Não deveria ser assim. A imprensa tem como princípio a imparcialidade, mas Neymar criou um efeito curioso: muitos só se manifestam quando é para colocar o dedo na ferida. Imagina se ele não tivesse jogado bem contra Juventude e Sport?
E, recentemente, há um fator que torna o ambiente ainda mais distorcido: Neymar está atuando com uma lesão no menisco do joelho esquerdo. Alguns tentam transformar isso quase em uma obrigação, como se fosse o mínimo aceitável ele jogar mesmo machucado, como se houvesse algum privilégio em se ausentar para tratar a lesão enquanto o Santos luta contra o Z4. Isso não faz sentido.
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Para uma estrela desse tamanho, seria muito mais confortável simplesmente parar, tratar a lesão com calma e evitar o desgaste de jogar em condições físicas longe do ideal. O risco de agravar o problema existe, as críticas continuariam existindo, e ainda assim ele escolhe ir a campo. Isso não é obrigação; é comprometimento.
Neymar e o peso dos adversários
Também tentam desvalorizar seus bons jogos dizendo que foram contra times “fracos”, como Sport e Juventude. Pode até ser verdade que não são os maiores adversários do país, mas o argumento cai por terra quando lembramos que grandes nomes do futebol brasileiro, como Arrascaeta, Vitor Roque e companhia, sempre são exaltados quando brilham contra esse mesmo tipo de equipe. Por que Neymar não pode ser?

Por que para alguns jogadores qualquer lampejo vira épico, mas para Neymar nem um bom desempenho e com participação decisiva merece reconhecimento? A resposta talvez esteja naquilo que Neymar representa. Ele desperta amor ou ódio, praticamente sem espaço para sentimentos neutros. E tudo bem: cada um tem o direito de gostar ou não gostar do jogador, de preferir outro estilo, outro comportamento, outra imagem.
O problema começa quando esses gostos pessoais pautam a análise profissional. Quando se tem um microfone na mão, a responsabilidade é maior do que as preferências individuais. Imparcialidade não é elogiar sempre nem criticar sempre; é enxergar o que acontece em campo, sem filtro emocional. Se Neymar joga mal, fale. Critique, analise, cobre, isso é saudável. Mas se ele joga bem, fale também. Reconheça, valorize, discuta com a mesma força. Do contrário, não é jornalismo. É torcida disfarçada de comentário.





