Reinaldo, maior artilheiro da história do Atlético-MG, recebeu um pedido formal de perdão da Comissão de Anistia por ter sido perseguido politicamente durante a ditadura militar. A decisão também inclui indenização em caráter reparatório.
O gesto reconhece décadas de violações, monitoramento e silenciamento imposto ao ex-jogador, cuja trajetória vai muito além das quatro linhas.
Como foi a cerimônia da Comissão de Anistia que concedeu o perdão
A cerimônia ocorreu em Brasília, em sessão oficial da Comissão de Anistia, órgão de assessoramento direto do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O ambiente foi marcado por forte emoção, depoimentos pessoais e reafirmação do dever de memória do Estado brasileiro.
Durante o evento, Reinaldo relembrou episódios de perseguição e descreveu o impacto psicológico e social que enfrentou. Ele destacou que a repressão da ditadura extrapolava a violência física e atingia carreiras e biografias por meio de campanhas de difamação.
“Talvez vocês se lembrem da minha trajetória nos campos, mas pode ser que não saibam da luta, muitas vezes silenciosa, que tive que enfrentar. Todos nós sabemos dos horrores da ditadura que tiraram a vida de tantos brasileiros, mas a repressão do Estado foi muito além dos porões e das celas e não usava só a violência física. Eles criavam campanhas de difamação, verdadeiras operações para acabar com a reputação e a vida social das pessoas que eles consideravam inimigos ou ameaças; era uma máquina de propaganda e mentiras que agia nas sombras com resultados terríveis na vida real”, disse o ídolo atleticano durante a sessão.
Como reconhecimento, além do pedido público de perdão, o ex-atacante receberá uma indenização em parcela única no valor de R$ 100 mil.

O que explica a perseguição e o papel de Reinaldo na luta por direitos civis?
Durante o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985), Reinaldo tornou-se alvo de investigação dos serviços de segurança do governo por seu posicionamento simbólico e por sua defesa da liberdade de expressão. Seu gesto de comemorar gols com o punho cerrado — referência ao movimento dos Panteras Negras — não passou despercebido pelos órgãos de vigilância do regime.
O Estado o monitorava constantemente e produzia relatórios que tratavam sua postura como ameaça política. Para setores militares, um ídolo popular com mensagem antirracista e contestadora representava risco, ainda mais em um esporte de grande alcance social.
- O gesto do punho erguido virou marca registrada do jogador.
- Órgãos de repressão interpretavam o símbolo como protesto político.
- Reinaldo relatou sofrer difamação e pressões extra-campo.
- A perseguição influenciou sua carreira e oportunidades profissionais.
Por que Reinaldo se tornou um dos maiores ídolos da história do Atlético-MG?
O ídolo atleticano estreou no clube com apenas 16 anos e rapidamente se transformou no principal rosto de uma geração que revolucionou o futebol alvinegro nos anos 1970 e 80. Seu talento, carisma e postura combativa o elevaram ao status de símbolo cultural em Belo Horizonte.
Além de artilheiro nato, Reinaldo representou identificação social e racial para torcedores, especialmente para a população negra que encontrou nele um espelho de orgulho e resistência. Seu legado ultrapassa gols: também ocupou cargos políticos em Minas Gerais e usou sua influência para tratar de temas sociais.
- É o maior artilheiro da história do Atlético-MG.
- Virou referência de representatividade para torcedores negros.
- Sua imagem está profundamente ligada à identidade cultural do clube.
- Participou da vida política mineira após a aposentadoria.
O que é e o que faz a Comissão de Anistia do MDHC?
A Comissão de Anistia é responsável por analisar pedidos de pessoas perseguidas por motivação política entre 1946 e 1988, com foco especial no período da ditadura militar. O órgão atua como instrumento de reparação moral, histórica e econômica.
Seu trabalho envolve reconhecer violações cometidas pelo Estado, emitir pedidos oficiais de desculpas e conceder indenizações quando houver comprovação de danos. Além disso, a comissão preserva a memória histórica e reforça compromissos democráticos.
- Julga pedidos de pessoas perseguidas politicamente.
- Concede reparações morais e financeiras.
- Integra as políticas de direitos humanos do MDHC.
- Promove ações educativas para manter viva a memória histórica.
Durante o evento para Reinaldo, a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, falou sobre esta reparação.
“A ditadura brasileira foi cruel, perversa, e destruiu pessoas em todos os lugares, em todos os âmbitos da sociedade, mas tivemos aqueles imprescindíveis, como Reinaldo, que não ser curvaram. E é por eles que estamos aqui, fazendo viva essa Comissão, porque precisamos ter posição, e precisamos que essa posição seja radical em defesa da democracia”, disse a ministra.





