O Botafogo viveu em abril um dos momentos mais importantes de sua história recente no remo. Atletas do clube venceram a seletiva nacional e bateram o recorde brasileiro da categoria, garantindo o direito de representar o país no Mundial que será disputado em Xangai, na China. O problema é que a Confederação Brasileira de Remo (CBR) informou que não arcará com os custos da viagem, sob a justificativa de falta de verba.
Na prática, isso significa que os atletas dificilmente irão, já que o remo não é um esporte que atrai grandes patrocínios no Brasil. Enquanto isso, outros competidores – como representantes do Flamengo – tiveram as despesas assumidas pela entidade.
Em entrevista, o vice-presidente de regatas do Botafogo, João Gualberto de Mello, questionou a falta de transparência na decisão:
“Já cobramos explicações oficiais e recebemos apenas respostas genéricas do tipo ‘não há dinheiro’. Não foi apresentado nenhum critério técnico ou regulamento que justificasse a exclusão dos nossos atletas”, desabafou.
O dirigente destacou que casos como os de Lucas Verthein, atualmente sem clube, e Beatriz Cardoso, do Flamengo, levantam dúvidas sobre os critérios adotados pela confederação. Ambos não disputaram a seletiva, fator decisivo para a convocação, e, mesmo assim, seguem sendo levados a todas as competições internacionais.
“O que não entendemos é que nossos atletas cumpriram o regulamento, ganharam a vaga na água e agora ficam de fora, enquanto outros que não participaram da seletiva viajam com apoio total. Isso gera uma enorme frustração”, disse.
João Gualberto também citou outras decisões da nova diretoria da CBR, que assumiu logo após as eleições realizadas no fim de abril. Segundo ele, a primeira medida foi cancelar o Mundial de Remo de Praia de 2025, evento já confirmado para acontecer no Rio de Janeiro.
“Foi um trabalho de mais de um ano junto à World Rowing, envolvendo prefeitura, Marinha, rede hoteleira e toda uma estrutura já montada. O Brasil tinha chance real de medalhas nessa modalidade olímpica emergente, como mostrou recentemente no Pan de Lima, onde conquistou duas medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze. Ainda assim, a CBR simplesmente comunicou o cancelamento de forma unilateral, sem diálogo com a federação internacional. Isso pegou muito mal para o remo brasileiro”, lembrou.
Questionado sobre a possibilidade de perseguição política, já que o Botafogo apoiou candidatos derrotados na última eleição da CBR, o dirigente preferiu não cravar:
“Não posso provar que seja retaliação, mas é um cenário que chama atenção”, frisou.
Sem condições financeiras de bancar os custos que seriam de responsabilidade da entidade, o Botafogo admite que o risco é de o Brasil perder representantes em Xangai.
“Não achamos válido o clube assumir essa obrigação. Esse risco sempre existe, e infelizmente quem perde é o esporte brasileiro”, concluiu o vice-presidente.