O debate sobre a legitimidade das eleições na CBF tem despertado a atenção de torcedores, juristas e entidades esportivas em todo o Brasil. A Confederação Brasileira de Futebol, que comanda o futebol nacional, tem enfrentado questionamentos sobre seus processos eleitorais, especialmente no que diz respeito à representatividade e à transparência das decisões tomadas. Recentemente, as discussões se intensificaram com denúncias de exclusão de clubes no processo de escolha do presidente da entidade. Esse embate não é apenas uma questão institucional, mas uma disputa que pode moldar os rumos do futebol brasileiro nos próximos anos. Afinal, o modo como a CBF organiza suas eleições impacta diretamente a governança esportiva, o equilíbrio de poderes entre federações e clubes, e até mesmo a confiança pública nas entidades que regulam o esporte. Neste artigo, vamos explorar os principais pontos que envolvem essa controvérsia e por que ela é tão relevante para o presente e o futuro do futebol nacional.
Como surgiu a polêmica em torno das eleições da CBF?
A discussão atual começou com críticas ao processo que elegeu o presidente Ednaldo Rodrigues, considerado por alguns setores como excludente e antidemocrático. A principal queixa é que a assembleia que deliberou mudanças importantes no estatuto da CBF — como o aumento do limite de mandatos — foi composta apenas por representantes das federações estaduais, sem a participação dos clubes. Segundo os críticos, isso contraria o princípio de representatividade, já que os clubes são protagonistas do futebol brasileiro e deveriam ter voz ativa nos processos de governança. A exclusão dos clubes reacendeu o debate sobre quem deve, de fato, compor o colégio eleitoral da entidade máxima do futebol no país, e trouxe à tona questões sobre transparência, equilíbrio institucional e legalidade.
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Qual é o papel do Ministério Público nesse contexto?
O Ministério Público (MP) tem desempenhado um papel importante como fiscalizador da legalidade nas eleições da CBF. Em momentos anteriores, o MP questionou a conformidade dos processos eleitorais com princípios constitucionais e celebrou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a entidade, visando garantir maior equidade e clareza na composição do colégio eleitoral. Contudo, a validade e a aplicação desse TAC têm sido alvo de embates judiciais. Em um episódio marcante, a Justiça do Rio decidiu que o MP não teria legitimidade para intervir em assuntos internos da CBF, o que culminou no afastamento temporário de Ednaldo Rodrigues. Esses embates jurídicos mostram que o papel do MP ainda é controverso e depende de futuras decisões de tribunais superiores, como o STF.
O que o julgamento do STF pode mudar na governança da CBF?
O Supremo Tribunal Federal (STF) está prestes a analisar uma questão crucial: até que ponto as regras internas da CBF podem ser modificadas sem a participação ampla dos atores envolvidos no futebol brasileiro. A decisão pode definir se os clubes devem ter poder deliberativo nas assembleias da entidade ou se as federações manterão o controle exclusivo sobre esses processos. Caso o STF reconheça a necessidade de uma maior participação dos clubes, a decisão poderá forçar a CBF a revisar seu estatuto, promovendo uma reforma política interna. Por outro lado, se o tribunal entender que o atual modelo não infringe normas constitucionais ou estatutárias, a estrutura vigente será mantida, fortalecendo o papel das federações estaduais no comando da instituição.
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Por que a exclusão dos clubes preocupa os especialistas?
A ausência dos clubes no processo eleitoral da CBF é vista por especialistas como um retrocesso em termos de representatividade e democracia esportiva. Isso porque os clubes são os principais protagonistas do espetáculo esportivo: investem recursos, formam atletas, movimentam torcidas e mantêm a engrenagem do futebol girando. Ao excluí-los das decisões que moldam o futuro do esporte, a CBF corre o risco de consolidar uma estrutura hierárquica verticalizada, que favorece interesses políticos em detrimento de uma gestão participativa. Além disso, essa exclusão compromete a legitimidade das decisões tomadas, gerando desconfiança e instabilidade dentro e fora do campo.
O que dizem os defensores da atual estrutura da CBF?
Os que defendem o modelo atual argumentam que as federações representam uma base ampla e descentralizada do futebol brasileiro, o que lhes confere legitimidade para tomar decisões estratégicas. Para esses defensores, a concentração do poder decisório nas federações garante estabilidade institucional e preserva a tradição histórica da CBF. Eles também apontam que a inclusão dos clubes pode gerar conflitos de interesse, especialmente em situações que envolvem competições, regulamentos e repasses financeiros. Na visão desses setores, o modelo atual, embora imperfeito, evita o desequilíbrio entre entidades que muitas vezes possuem interesses concorrentes dentro do sistema esportivo.
Como essa disputa afeta o torcedor e o futebol nacional?
Embora o debate pareça restrito aos bastidores da política esportiva, ele tem reflexos diretos sobre a experiência dos torcedores e o desenvolvimento do futebol no Brasil. Uma governança mais transparente e inclusiva tende a fortalecer a credibilidade das competições, melhorar a alocação de recursos e promover decisões mais equilibradas para todos os envolvidos. Por outro lado, um sistema pouco representativo pode fomentar decisões unilaterais, gerar crises institucionais e enfraquecer o compromisso com o interesse público. Em última instância, o torcedor é impactado por essas escolhas, seja pela qualidade da gestão, pelos investimentos nos clubes, ou pela confiança no sistema esportivo como um todo.

O que está em jogo para o futuro da CBF?
O debate sobre a legitimidade das eleições na CBF não se resume a um embate momentâneo. Ele representa uma oportunidade crítica para revisar o modelo de governança de uma das instituições mais importantes do país. O que está em jogo é a capacidade da CBF de se adaptar a um cenário que exige mais transparência, participação e responsabilidade institucional. A depender da decisão dos tribunais e da mobilização dos atores do futebol, a entidade poderá passar por uma reestruturação significativa, abrindo espaço para uma gestão mais democrática. Ou então, poderá manter o atual arranjo, com todas as suas consequências políticas e jurídicas. Em ambos os casos, os desdobramentos afetarão diretamente a estrutura de poder do futebol nacional e, por consequência, o desempenho institucional e esportivo do Brasil nos próximos anos.