A Copa Libertadores da América, a principal competição de clubes de futebol da América do Sul, passou por uma significativa transformação em 2019 com a instituição da final em jogo único. Até então, as finais eram disputadas em formato de ida e volta, proporcionando uma sensação de equidade e emoção aos torcedores dos clubes finalistas. A mudança para o jogo único foi uma tentativa de alinhar a competição sul-americana com o modelo da Champions League da UEFA, famosa por suas cerimônias grandiosas e partidas decisivas realizadas em um único estádio neutro.
O estopim para essa transformação foi a caótica final de 2018 entre Boca Juniors e River Plate. Devido a incidentes de violência que levaram ao adiamento da partida decisiva, o confronto foi transferido para o Estádio Santiago Bernabéu, em Madri, resultando na vitória do River Plate. Este episódio enfatizou a necessidade de repensar o formato de decisão da competição, levando a Conmebol a adotar o jogo único a partir de 2019.

O desafio logístico da final em jogo único
Ao contrário da Europa, onde as distâncias entre países são relativamente curtas e existe uma infraestrutura de transporte robusta, a América do Sul enfrenta desafios únicos. As grandes distâncias, combinadas com uma malha aérea e ferroviária limitada, complicam a mobilidade de torcedores entre os diferentes países do continente. Essa realidade torna o conceito de uma final única um desafio logístico significativo para torcedores e clubes.
Em 2021, a final da Copa Sul-Americana exemplificou essas dificuldades. Disputada no Estádio Centenário em Montevidéu, a partida presenciou muitas arquibancadas vazias, destacando as dificuldades enfrentadas por torcedores em viajar para um local distante e pouco acessível. Similarmente, a final da Libertadores em Buenos Aires, com previsão de duelo entre Botafogo e Atlético-MG, levanta preocupações sobre a capacidade de muitos torcedores viajarem para o evento.
É o jogo único a melhor solução?
A introdução do jogo único gerou um debate sobre sua pertinência e adequação à realidade sul-americana. A decisão foi principalmente motivada por interesses econômicos e o desejo de incrementar o apelo comercial da competição, mas ignora aspectos culturais e logísticos fundamentais do futebol latino-americano. Muitos críticos argumentam que o formato tradicional de duas partidas seria mais justo e alinhado às expectativas dos torcedores, que desejam vivenciar a atmosfera única de uma final em casa.
Além disso, a desigualdade na qualidade dos estádios entre os países sul-americanos é outro fator a ser considerado. Enquanto alguns estádios no Brasil, por exemplo, oferecem infraestrutura moderna, muitos outros países ainda enfrentam limitações significativas nos seus locais de competição.
O futuro das finais da Libertadores
À medida que a Conmebol continua avançando com o formato de jogo único, resta saber como a organização equacionará os interesses comerciais com as necessidades logísticas e culturais de uma região tão diversa. A adaptação e evolução são naturais, mas devem respeitar as tradições e as condições práticas existentes. Neste cenário, rever o modelo e talvez considerar um retorno ao formato de duas partidas pode ser uma solução mais equilibrada e que preserve a essência do futebol sul-americano.