O duelo suspenso entre Brasil e Argentina no último domingo, 5, válido pela sexta rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo, ainda terá os desdobramentos definidos pela Fifa.
O jogo na Neo Química Arena, em São Paulo, foi interrompido aos seis minutos do primeiro tempo por agentes da Anvisa e da Polícia Federal por conta de quatro jogadores argentinos que vieram da Inglaterra. Viajantes do país europeu precisam passar por isolamento de 14 dias antes de entrar no Brasil, o que não aconteceu.
Os agentes invadiram o gramado para retirar o goleiro Emiliano Martinez, os meias Emiliano Buendia e Giovani Lo Celso e o zagueiro Cristian Romero. O delegado da partida tentou impedir, mas os agentes chegaram a discutir com os jogadores.
De acordo com a Anvisa, o quarteto argentino teria entrado no país com declarações falsas de onde estavam nos últimos 14 dias. Todos moram na Inglaterra, onde jogam por times do Campeonato Inglês. Na última quinta-feira, eles entraram em campo na vitória por 3 a 1 sobre a Seleção Venezuelana, na Venezuela.
O correspondente da PERFIL Argentina, Edgardo Matolino, explicou que a Argentina deve e merece perder pontos pelo ocorrido em São Paulo.
“A Seleção Argentina deve perder os pontos do jogo ‘suspendido’ neste domingo, 5 de setembro, em São Paulo, contra o Brasil, já que a ilegalidade que cometeu não encontra desculpa documental que justifique a realização de uma nova partida. Terá que perdê-los porque retirou o seu time do campo. E merece perdê-los porque as ‘malandragens’, nessa altura da história, já não servem. A Argentina, como quase sempre, fez tudo errado, tentou impor o seu gosto e manobrar ao seu jeito quando não correspondia, fora das suas fronteiras”, escreveu.
Edgardo ainda destacou as ilegalidades da delegação argentina e a conduta do dirigente da Federação Argentina de Futebol (AFA), Fernando Ariel Batista, que teria recebido ordens de “alguém acima”.
“Mas isso – colocá-los em campo quando deveriam estar isolados – não foi a única ilegalidade incorrida. A segunda foi antes, quando os quatro jogadores, orientados pelo dirigente da AFA Fernando Ariel Batista, um ‘mandado’ que atendeu ao pedido de alguém mais acima, mentiram na declaração jurada que assinaram ao entrar no Brasil. A declaração é semelhante àquela que também deve ser preenchida para entrar na Argentina. O viajante jura fornecer dados verídicos, que não podem ser falsos sob pena de multa e processos judiciais que podem até acabar na prisão do transgressor. A pandemia mata e precisa ser respeitada. Até para nós, argentinos, seres superiores… pelo menos em nossa perturbada peculiaridade”, continuou.
O correspondente ainda destacou que era obrigação do quarteto argentino e da delegação argentina ir de acordo com as leis brasileiras. Na publicação, relembrou a reunião entre as partes envolvidas na partida, onde foi acordado que os jogadores deveriam cumprir quarentena enquanto aguardavam a autorização para a liberação excepcional, mas não foi cumprido e os atletas treinaram normalmente.
“Enquanto se processava tal excepcionalidade, os quatro argentinos foram treinar com o restante da delegação, rompendo assim o recente acordo. Aí o pedido de excepcionalidade foi abortado e foi decidido não deportar os jogadores imediatamente para evitar escândalos, mas foi sublinhado que eles não poderiam sair do hotel”, completou.
O jornalista argentino criticou a conduta da delegação da seleção quanto aos acordos para a partida, destacando que a Argentina “acredita ser dona de tudo” ao colocar como condição para entrar em campo a presença dos quatro jogadores. Mesmo tendo sido avisado pela Anvisa já no estádio, Scaloni escalou Emiliano Martinez, Giovani Lo Celso e Cristian Romero. Buendia sequer ficou no banco de reservas.
“Lionel Scaloni, em vez de substituir os três jogadores e seguir o jogo (seriam levados para o hotel ou para o aeroporto) ratificou a sua voz de chefe de nada e retirou o time de campo”, continuou Edgardo.
O argentino também criticou as opiniões que apontavam que o Brasil deveria perder pontos nas Eliminatórias.
“De onde o ex-jogador e agora cartola argentino Gonzalo ‘Pejerrey’ Belloso dizia, já no sábado, o absurdo de que se os quatro argentinos não pudessem jogar, o Brasil perderia os pontos? Por quê? O dizia para dar coragem ao medíocre Scaloni de sair com seus onze escolhidos? Ele queria força nacional máxima ou torcia para que estourasse o escândalo visando obter algum ganho pessoal, porque ele aspira a ser presidente da Conmebol? Só ele sabe. Se é que sabe. Eles são pessoas tão lastimosas que não confiam nem em seus próprios pensamentos. E fazem bem”, escreveu.
Por fim, Edgardo destacou a “boa vontade” dos brasileiros em permitir que os quatro jogadores voltassem para a Argentina.
“Não há um único argumento pelo qual esta partida deva ser disputada novamente, embora a Argentina tente se refugiar no Artigo 5º da FIFA que fala de uma causa de ‘força maior’, algo que certamente será rejeitado porque não foi a pandemia que interrompeu o jogo: foi suspendido pela ilegalidade em que incorreu repetidamente a delegação nacional. Tampouco há a menor chance de que a Argentina não perca os pontos, embora a AFA, sustentando os negócios de alguns advogadelhos conhecidos no meio e já citados em colunas anteriores, levara o caso ao TAS, o Tribunal Esportivo sediado na Suíça”, continuou.
“Só que quando este se pronuncie, as Eliminatórias terão acabado, a Argentina com certeza se classificará com esses pontos ou sem esses pontos, para a Copa do Mundo do Catar e tudo ficará numa multa de 10.000 francos suíços que é a penalidade que a FIFA aplicará por regulamento. Ao pé da letra, também poderia excluir a Argentina das Eliminatórias; mas isso não vai acontecer. É sabido que Lionel Messi tem que jogar, sim ou sim, pelo bem do Catar, da FIFA e do maltratado futebol, a sua última Copa do Mundo…”, finalizou.