Rodrigo Koxa voltou ao centro das atenções do surfe de ondas gigantes após dropar, em Nazaré, Portugal, uma parede d’água estimada em até 28 metros. O episódio ocorreu em 19 de dezembro e reacendeu a disputa pelo título de maior onda surfada do mundo, marca que o paulista de Jundiaí já havia detido entre 2017 e 2022. A nova performance, registrada por diversas câmeras, passou a ser analisada por especialistas e por entidades responsáveis pela homologação de recordes.
O surfe de ondas gigantes em Nazaré é conhecido pelo risco elevado e pela força do mar. Aos 46 anos, Koxa soma mais de uma década de experiência na região e descreve aquela sessão como uma das mais desafiadoras da carreira. A velocidade da “bomba” portuguesa e a distância da arrebentação em relação à areia ajudam a explicar por que cada novo drop ali ganha repercussão internacional e entra imediatamente no radar dos avaliadores de recordes globais.
Maior onda surfada do mundo: como esse recorde é medido?
A expressão “maior onda surfada do mundo” não se refere apenas a uma impressão visual. Para que um feito seja reconhecido, existe um processo técnico de medição, que considera imagens em alta resolução e a posição exata do surfista na parede da onda. Em Nazaré, onde as ondas quebram a mais de 400 metros da praia, o uso de vídeos, fotografias e softwares de análise é hoje indispensável.
Historicamente, a principal referência para medir a altura da onda é o próprio surfista. No caso de Rodrigo Koxa, com 1,72 m de altura, as imagens sugerem que o paredão teria cerca de 17 vezes sua estatura, o que projetaria algo entre 27 e 28 metros. Nos últimos anos, passou-se também a considerar o tamanho da perna do atleta como parâmetro adicional, buscando reduzir margens de erro em ondas de grande porte.
Quem homologa o recorde de maior onda surfada?
Até 2023, o processo de validação das maiores ondas surfadas estava sob responsabilidade da WSL (Liga Mundial de Surfe), por meio de um prêmio anual dedicado às big waves. A partir de uma mudança estratégica, a entidade decidiu focar apenas em competições e transmissões ao vivo, devolvendo a tarefa de homologar recordes ao Guinness World Records e ao Big Wave Challenge Group, grupos que já atuavam nesse campo anteriormente.
Esses organismos reúnem especialistas em oceanografia, juízes de surfe e big riders experientes para avaliar cada candidatura a recorde. O processo é relativamente longo: inclui checagem da autenticidade das imagens, análise técnica da formação da onda, conferência de equipamentos utilizados e comparação com marcas anteriores, como a do alemão Sebastian Steudtner, que tem oficialmente 26,21 m, também registrados em Nazaré.
- Recolhimento de vídeos e fotos em diferentes ângulos;
- Medições baseadas em referência humana (altura do surfista);
- Análise da posição do atleta na face da onda;
- Revisão por um painel de especialistas em ondas grandes;
- Publicação do resultado em evento ou relatório oficial.
Por que Nazaré gera tantas ondas recordes?
A cidade portuguesa de Nazaré se consolidou, ao longo da última década, como o principal palco de disputa pela maior onda já surfada. O motivo está no chamado Canhão de Nazaré, um cânion submarino com profundidade que chega a 5.000 metros e direciona a energia do oceano Atlântico diretamente para a costa, concentrando a força das ondulações em uma área relativamente pequena.
Esse fenômeno geológico faz com que, em dias de swell intenso, as ondas ganhem altura e potência raramente observadas em outros picos de surfe ao redor do planeta. A combinação de vento, período de onda e localização geográfica cria condições ideais para paredões que ultrapassam facilmente os 20 metros, e que, em temporadas excepcionais, podem romper barreiras anteriores, como no caso de Koxa em 2017 e, agora, possivelmente em 2024/2025.
- Cânion submarino profundo e alinhado à costa;
- Frequente entrada de swell do Atlântico Norte;
- Fundo que favorece o “levantamento” rápido da onda;
- Infraestrutura de resgate com jet-skis e equipes especializadas;
- Presença constante de fotógrafos e cinegrafistas, essenciais às medições.
Equipe, segurança e próximos passos para o recorde de Koxa
Além do próprio surfista, a possível nova maior onda do mundo surfada por Rodrigo Koxa envolveu uma operação de equipe. A entrada na onda foi feita com o auxílio do piloto de jet-ski Vitor Faria, responsável por posicionar o atleta no ponto exato do drop. Ao redor deles, outro jet de backup, spotter na falésia e profissionais de suporte acompanharam cada movimento, atentos a qualquer necessidade de resgate rápido.
Com a onda já surfada, o foco passou a ser a organização do material para envio ao Guinness e ao Big Wave Challenge. O cronograma previsto pelos grupos de avaliação indica que a onda de Nazaré deve ser julgada oficialmente no próximo evento do Big Wave Challenge, programado para 2026. Até lá, a temporada de ondas grandes ainda segue em aberto, com janeiro e fevereiro tradicionalmente marcados por novos swells na costa portuguesa.
Se a marca entre 27 e 28 metros for confirmada, Rodrigo Koxa poderá recuperar o posto de detentor da maior onda surfada do planeta, coroando uma trajetória dedicada a perseguir os maiores paredões do ano em cada temporada. Independentemente do resultado final das medições, o episódio reforça o papel de Nazaré como laboratório natural das ondas gigantes e mantém o surfista brasileiro no centro da discussão sobre os limites físicos e técnicos desse tipo de surfe.





