Do alto de uma carreira marcada por coragem, superação e ondas gigantes, o surfista brasileiro Marcelo Luna anunciou nesta quarta-feira, 10, direto de Puerto Escondido, no México, sua aposentadoria como atleta profissional. O motivo: uma inflamação crônica nos brônquios — justamente o órgão que, por anos, sustentou sua fama de “pulmão de aço” na maior onda do planeta.
Luna se despede oficialmente após uma série de complicações pulmonares que se agravaram mesmo após as duas cirurgias realizadas em 2024. “É uma ironia gigante. O cara que viveu do pulmão, agora com inflamação nos brônquios. A ferramenta que construiu minha carreira! Nunca fui um surfista técnico, mas sempre fui um atleta. Tinha apneia, resistência, pulmão! Hoje, estou limitado por ele. Tentei de tudo. E entendi: como pessoa normal, eu posso viver, mas como atleta, não mais.”
Especialista em ondas gigantes, Luna construiu uma trajetória incomum. Com um plano ousado de se tornar surfista profissional exclusivamente pelo tow-in (formato em que o atleta é rebocado por jet-ski até ondas gigantes), conquistou reconhecimento mundial.
Em Nazaré, Portugal, surfou um paredão de cerca de 24 metros, ficando 38,2 segundos em pé, tempo registrado como um dos maiores da história. Foi o primeiro surfista a se profissionalizar diretamente pelo Big Wave Awards, principal premiação mundial da modalidade. Ao longo dos anos, acumulou três indicações consecutivas ao “Oscar das ondas gigantes”.
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Mais sobre Marcelo Luna
Em 2022, também em Nazaré, sobreviveu a um dos momentos mais extremos da carreira, quando seu colete inflável explodiu e ele ficou por 4 ondas em uma batalha por mais de três minutos sem colete. O resgate só foi possível graças à resistência fora do comum.
O México, escolhido como cenário de sua despedida, foi palco de grandes desafios — como em 2023, quando enfrentou as temidas ondas de Puerto Escondido, uma das mais temidas ondas de remada do mundo, e um lugar do novo desafio e projeto de carreira: “Escolhi o México pela importância que esse país teve na minha carreira. Foi aqui e em Nazaré que vivi meus maiores aprendizados.”
Marcelo Luna também é o único surfista da história a ter um contrato de atleta profissional pelo Corinthians, clube que carrega no peito com orgulho. Nascido em São Bernardo do Campo (SP), foi homenageado como bombeiro honorário por salvar dezenas de vidas durante enchentes no ABC. Em 2024, recebeu o Troféu Senna e um Voto de Júbilo da Câmara Municipal de São Paulo, reconhecimento de uma trajetória que vai além do mar.
Ações sociais
Ele também deixou sua marca em ações sociais, como a parceria com o Instituto Ayrton Senna, estampando em suas pranchas e uniformes o legado do piloto. Agora, como aposentado, segue em projetos que estão em andamento sobre sua história, também com palestras e mentorias. Luna encerra a carreira com o coração em paz:
“Anuncio minha aposentadoria com gratidão por cada onda que desafiei e cada lugar que me acolheu. Este ciclo chega ao fim, mas levo comigo memórias e amizades que fiz mundo afora.”
Marcelo Luna se despede como viveu: com intensidade, resiliência e emoção. O menino do ABC paulista que desbravou a maior onda do mundo agora segue em terra firme, mas com o mesmo espírito indomável.
