O caso de racismo na Libertadores sub-20 contra Luighi, jovem atleta da base do Palmeiras, comoveu o país e potencializou a revolta da população, especialmente com a punição branda determinada para o Cerro Porteño. Historicamente, a Conmebol é negligente em casos de preconceito racial e se limita a notas de repúdio e campanhas pouco instrutivas, ineficientes para evitar recorrências.
Em fala exclusiva ao SportBuzz, o professor universitário e autor do livro “Antirracismo em contos leves”, Eduardo Prazeres, explicou o descaso. “Como não há mudança de mentalidade, através da educação ou da punição, o futebol fica marcado como esporte racista. Uma solução seria uma legislação global, com tolerância zero, que previsse perda de pontos e exclusão de competições dos times e torcedores racistas”, pontuou.
Além disso, Prazeres ressaltou que a construção de um pensamento coletivo antirracista deve se mostrar presente em todas as instâncias: “O esporte, de modo geral, se aproveita do potencial dos atletas negros e depois lhes nega que continuem trabalhando na área. Deveria haver uma preocupação com a formação de técnicos e gestores, até para que se transformem em exemplo para as gerações posteriores”.
Quando questionado sobre o que pode ser efetivo no enfrentamento ao racismo dentro do futebol, Eduardo foi categórico. “Num primeiro momento, oferecer apoio às vítimas e ouvi-las. Depois, Federações, ligas e clubes deveriam implementar programas educacionais pautados pelo ensino de ética e empatia; criar comissões, para tratar de diversidade”, elencou.
Ver essa foto no Instagram
Caso Luighi: como enfrentar o racismo no futebol?
“Aproveitar o alcance que os grandes jogadores têm na mídia e no coração dos torcedores, para que ocupem lugar de destaque nesta luta e conscientizar, fãs e imprensa sobre a importância do respeito mútuo sem clubismo, nacionalismo ou interesses comerciais nocivos à busca pela igualdade”.
O Brasil carece de alguns símbolos na luta antirracista que estejam, ao mesmo tempo, atrelados ao futebol. Vini Jr, craque do Real Madrid, tem se apresentado como o grande representante do país sul-americano. Inclusive, o camisa 7 mandou um recado de apoio a Luighi após o episódio na Libertadores sub-20.
“Vini Jr. é um exemplo maravilhoso, tem um alcance global, ídolo de todos que amam o que o futebol representa, um dos futebolistas mais politicamente importantes da história. Outros jogadores e figuras públicas que moldam as mentes dos jovens deveriam se valer de sua representatividade para simbolizar uma mudança. Mas, às vezes, também por falha na formação ou por desinteresse, não conseguem perceber como e se devem fazê-lo”, avaliou Prazeres.
Ainda assim, o escritor não anulou a responsabilidade do público, que precisa fazer a sua parte para combater a opressão racial. “O torcedor tende a se portar coletivamente, ele não só vibra com os seus pares por uma equipe, eles “são” esta equipe. […] Contudo, ele não precisa se portar como uma turba. Não pode se esquecer de ética, empatia, cidadania, só porque está futebolisticamente uniformizado”, declarou.
“Não tem de cantar músicas racistas ou homofóbicas no estádio, lugar em que muitas vezes, vai acompanhado de crianças. Essa coletividade, algo, geralmente vital e apaixonante, esse ‘sou meu time’, pode se transformar em viradas e goleadas antirracistas e um dia levar todos nós à vitória”.