Uma cidade de pouco mais de 265 mil habitantes ficou reconhecida mundo afora. Nela, reside o único clube grande do Brasil que não é de uma capital. E se tem algum porquê do Santos ter o tamanho que tem hoje, ele pode ser resumido em uma palavra com quatro letras: Pelé. No dia 8 de agosto de 1956, uma quarta-feira, um jovem de terno azul-marinho e mala de papelão desembarcava nas cercanias da Vila Belmiro, em Santos. Acompanhado por Waldemar de Brito, ex-jogador da seleção brasileira, aquele adolescente de Bauru, São Paulo, ainda não sabia que estava prestes a escrever seu nome na história como o maior jogador de futebol de todos os tempos.
“A primeira vez que vi o Pelé, ele estava sentado em uma lanchonete aqui ao lado, tomando uma Coca-Cola”, relembra Pepe, seu futuro companheiro de equipe. “Waldemar disse que ele era bom de bola e que daria muitas alegrias ao Santos. Eu fui apresentado a ele e nunca poderia imaginar o que estava por vir.”
Pepe, que orgulhosamente se intitula o maior artilheiro humano da história do Santos — “O Pelé não conta porque era um ET” —, viu de perto o início da carreira de um jogador que transformaria o clube e o futebol mundial.
🎶 Só Pelé, só Pelé…
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— Brasileirão Betano (@Brasileirao) August 28, 2024
Dúvidas, erros e um futuro incerto
Na época, Edson Arantes do Nascimento, então com apenas 15 anos, carregava consigo dúvidas sobre seu talento. Ele já havia perdido a chance de jogar pelo Bangu, no Rio de Janeiro, por veto de sua mãe, Celeste. O Santos, portanto, era sua última grande oportunidade.
“No dia da viagem, eu não dormi. Pensava: ‘Será que vou ser bom o suficiente? O que me espera em Santos?’”, contou Pelé em sua autobiografia.
Mesmo após sua chegada, a adaptação não foi fácil. Em uma de suas primeiras partidas pelo time sub-16, Pelé perdeu um pênalti na final contra o Jabaquara, tornando-se vilão do vice-campeonato. “Naquela noite, senti vergonha. Fiz minha mala e decidi voltar para Bauru na manhã seguinte”, revelou. Contudo, um funcionário do clube, Sabuzinho, impediu sua partida, alterando o rumo do futebol para sempre.
O primeiro gol de Pelé e a ascensão meteórica
Em 7 de setembro de 1956, Pelé marcou seu primeiro gol pelo Santos em um amistoso contra o Corinthians de Santo André. A partir daí, sua ascensão foi meteórica. Em 1957, ele iniciou uma série de nove edições consecutivas do Campeonato Paulista como artilheiro, incluindo os históricos 58 gols em 1958.
Embora suas primeiras grandes atuações pela Seleção Brasileira tenham ocorrido enquanto vestia a camisa do Vasco em uma equipe combinada, foi com o Santos que Pelé construiu sua lendária trajetória. Sob seu comando, o clube venceu dez vezes o Campeonato Paulista, duas Libertadores e dois Mundiais Interclubes, consolidando-se como referência no futebol global.
Uma hegemonia liderada pelo Rei
Zito, um dos líderes do elenco santista, lembra o impacto imediato da chegada do jovem talento. “Soube que Waldemar traria um garoto, mas não sabia que era o Pelé. Ainda assim, fomos esperá-lo, pois Waldemar era ídolo de todos nós”, contou.
O impacto de Pelé foi tão grande que sua saída, em 1974, marcou o início de um período de declínio para o Santos. Apesar de conquistas pontuais, como os títulos paulistas de 1978 e 1984, o clube só voltou a se reerguer nos anos 2000, com gerações lideradas por Diego, Robinho e Neymar.
Sonhe grande. Foi assim com um garoto de Três Corações que, com coragem e paixão, conquistou o mundo e se tornou Rei. Se ele chegou tão longe, você também pode. O Rei é eterno, porque ele sempre será inspiração para nunca desistir e acreditar que todo sonho é possível.
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Dream… pic.twitter.com/7AwbkTaa9p— Pelé (@Pele) November 27, 2024
Pelé e sua conexão eterna com o Santos
“Agradeço a Deus pela oportunidade de estar aqui e ter me colocado no Santos. Tive a felicidade de presenciar o clube crescendo para o mundo. Eu fiz parte dessa história”, declarou Pelé durante as comemorações do centenário do clube.
A história de Pelé e do Santos é inseparável, marcada por feitos que moldaram o futebol moderno. Desde os primeiros passos incertos na Vila Belmiro até as glórias nos principais estádios do mundo, o eterno camisa 10 redefiniu o que significa ser uma lenda.
Hoje, a trajetória do Santos é dividida entre antes e depois de Pelé, e suas contribuições continuam a inspirar gerações. Enquanto nomes como Neymar mantêm viva a chama do clube, o legado do Rei do Futebol permanece inigualável, uma lembrança perene de que sonhos podem se transformar em realidade.