O goleiro Matheus Cavichioli é uma das referências no América-MG. Aos 36 anos de idade, ele está longe de pensar em deixar o futebol; mas motivos não faltaram para o goleiro se despedir do que mais ama fazer na sua vida. O líder do Coelho viu as portas se abrirem tardiamente no esporte, mas ele nunca deixou de sonhar.
Seja com um problema cardíaco, que o fez pensar em desistir do futebol durante o seu ápice no América-MG, ou então a falta de oportunidades em clubes de elite do esporte nacional, Matheus é um dos diversos exemplos de resiliência no mundo da bola. Em entrevista exclusiva ao SportBuzz, o goleiro trouxe mais detalhes de sua árdua trajetória até chegar a Belo Horizonte.
Confira a entrevista na íntegra:
Ao todo, foram 17 times na carreira, muitos pelo interior do Rio Grande do Sul, mas ele só foi se firmar em clubes da elite do futebol nacional em 2017. Porém, antes disso, ele enfrentou o momento mais complicado de sua carreira. Mesmo que tenha tido um problema cardíaco, esse não foi o período mais conturbado de trajetória no futebol nacional.
“Foi em 2017, a gente foi campeão gaúcho como Novo Hamburgo. O momento terrível foi rodar pelo interior do Rio Grande do Sul, não pelos lugares, mas era complicado. Fazia um bom campeonato e as portas não se abriam. Pensei em baixar a ficha e jogar apenas no final de semana. Mas foi aí que o Novo Hamburgo apareceu, mas no meio disso tive uma fissura jogando futevôlei e pensei em desistir do futebol“, começou a contar.
“Minha esposa me apoiou, tratei, voltei e fui escolhido como melhor goleiro do campeonato. A primeira vez que isso aconteceu no Gauchão. De lá para cá as coisas melhoraram muito e eu fui subindo. Isso que eu tive no início do ano foi complicado, mas quando as portas não se abriram pra mim foi mais difícil ainda. Graças a insistência da minha esposa eu mantive a cabeça boa e estou tentando ajudar aqui hoje“, seguiu.
Depois de enfrentar esse momento difícil na carreira, Matheus Cavichioli se firmou no Juventude, acumulou passagens pelo Oeste e chegou ao América-MG. O goleiro se tornou um dos símbolos da nova fase que o clube vive e, desde 2020, é uma referência no elenco. No entanto, no final de 2021 e começo de 2022 veio a notícia de sua lesão cardíaca.
A projeção era de que ele fosse ficar até um ano parado, mas Cavichioli mostrou forças novamente e contou com a ajuda do América-MG para superar todas as dificuldades. Segundo o goleiro, a recuperação quebrou todas as expectativas e, após fazer uma angioplastia de uma artéria parcialmente obstruída no coração, ele retornou as atividades em menos de três meses.
“Normal você tomar um susto. O que você pensa sobre algo cardíaco? Em algo sedentário, que se alimenta mal ou tem algum tipo de vício e eu não tenho nada disso. Mas, de verdade, não foi o momento mais difícil da minha carreira. Foi um sentimento de lesão e eu fiz o que podia para o momento. Mesmo que uma carga abaixo do que estou acostumado, o tempo passou e eu me recuperei. Antes de qualquer responsável se pronunciar sobre o tempo, já tinha saído que poderia ficar de seis meses a um ano parado e eu voltei em dois meses a fazer as atividades. Mais uma grande conquista no América“, seguiu.
Cavichioli ainda contou ao SportBuzz mais detalhes de sua recuperação no América-MG e deixou claro a sua gratidão com todos que cuidaram dele durante o momento difícil de sua carreira: “Dá para responder de uma forma simples: “Tô aqui”. Foi um problema extremamente complicado. Eu tive em todas as áreas do melhor. Tive os melhores médicos, enfermeiros e as melhores pessoas ao meu redor. Sempre vinha alguém com uma palavra bacana para mim. Eu tive tudo do melhor. Todos foram espetaculares comigo“.
“Acredito que aconteceu no lugar que tinha que acontecer. Eu estava no lugar onde tive todo o respaldo. Também tive todo um respaldo em casa e minha esposa foi muito importante em relação aos meus pensamentos sobre aposentar e não jogar mais. Espero estar retribuindo ao América todo esse carinho que recebi“, finalizou.
Confira mais detalhes da entrevista com Matheus Cavichioli
- Bom momento no Brasileirão e foco em competições internacionais:
“O objetivo principal são os pontos mágicos, 45, 46, 47 penso que nos garantem na série A do Brasileirão. A gente não pensa, momentaneamente, na possibilidade de uma Sul-Americana e Libertadores. A gente tem feito por onde, mas seguindo o caminho que a gente está seguindo, vamos consolidar o América Mineiro no futebol brasileira. Após conseguir esse objetivo, a gente começa a pensar na Libertadores e Sul-Americana“.
- Como foi a Libertadores e estar de fora neste momento importante para o clube?
“Foi atípico, né? Muitos assim como eu disputaram pela primeira vez um campeonato internacional. Poderíamos ter chegado mais longe, acho que até por isso estamos querendo conquistar nossa vaga novamente. Acho que a gente pode ir mais longe. Foi algo surreal. Não joguei, mas estive presente nas viagens e queremos isso de novo. Mas conseguir novamente, vamos ter que guerrear bastante contra os nossos adversários, mas nos dá a condição de poder estar lá. Temos grandes chances de conquistar essa vaga novamente, mas primeiro a pontuação mágica e depois a pontuação para uma competição internacional. Levamos a permanência na série A e vaga na Libertadores e Sul-Americana como conquistas“.
- Fica algum arrependimento da campanha na Libertadores?
“Fica o sentimento de que poderíamos ter feito mais. Tínhamos condições para fazer um pouco mais, mas naquela ocasião foi o que pudemos fazer. Futebol é muito dinâmico, né? O foco se mantém totalmente no Brasileirão e não dá tempo de lamentar. Não dá tempo de comemorar uma vitória e muito menos lanter derrotas e classificações. Fica a certeza de que poderíamos ter feito mais”.
- O principal rival do Atlético-MG e como o elenco encara isso?
“É complicado falar. Acho que o que diz mais sobre o clássico é o fator externo. Tratamos os adversários da mesma forma. A gente coloca todos os adversários no mesmo patamar. Esse lance do clássico se torna algo mais extracampo. A gente sabe como é satisfatório vencer um jogo como esse e é legal ver como os adversários nos enxergam e valorizando quando pontuam contra o América. Todo derbi do mundo acaba se tornando uma rivalidade muito grande em função da torcida. É um jogo diferente, principalmente para os mais apaixonados. Para a gente é uma partida extrema importância, mas para mim é mais um adversário que eu vou tratar com tamanho respeito. Jogamos contra o Atlético na série A e o Cruzeiro e a Tombense na série B e não fizemos distinção disso“.
- O que esperar do América para 2023?
“Acho que quem tem a ganhar com isso é a cidade de belo Horizonte. Pensa que demais ter as três equipes da cidade na série A. Serão clássicos o ano toda. Isso aí é incrível, traz um bem para a cidade. Não é somente o eixo Rio-São Paulo que está forte. Para o ano que vem ainda é cedo, 2020 foi muito bom, 2021 excelente e 2022 está sendo incrível. Por mais que não tenhamos ganhado títulos, conquistamos coisas importantes e não descartamos começar 2023 ainda melhor“.