1960 – XVII Jogos Olímpicos – Roma – Itália
Abertura: 25.ago.1960 – Encerramento: 11.set.1960
Abertura Oficial: Presidente Giovanni Gronchi
Juramento dos Atletas: Adolfo Consolini
Acendimento da Pira: Giancarlo Peris
Países Participantes: 83
Total de Atletas: 5338 Homens: 4727 – Mulheres: 611
Brasil (Atletas): 81 Homens: 80 – Mulheres: 1
Esportes: 19 – Eventos: 150
Mesmo enfrentando cinco cidades: Lausanne, Detroit, Budapeste, Bruxelas, Cidade do México e Tóquio e três votações, em 1955 a Cidade Eterna foi indicada para realizar os Jogos de 1960.
Demonstrando que a Igreja havia errado quando aconselhou o imperador Teodosio a considerar os Jogos uma festa pagã, o próprio papa João XXIII, um dia antes
da abertura dos Jogos, recebeu, em emocionante audiência realizada na Praça São Pedro, quase todos os atletas participantes.
Foi uma Olimpíada ímpar, com novas instalações em históricos e memoráveis cenários. Com dinheiro da loteria e supervisionado por Giulio Andreotti – que anos depois se tornou primeiro-ministro –, foi reformado o Estádio Olímpico, e ao seu
lado construído o maravilhoso Stadio Del Nuoto, local das provas aquáticas, com uma piscina coberta e totalmente apropriada para quebra de recordes, instalações localizadas no Foro Itálico, cercado por sessenta belíssimas estátuas brancas que representam os deuses esportivos do universo.
As provas de hipismo e pentatlo moderno foram realizadas em Pazzo Cortese, a trinta quilômetros de Roma. O Lago Albano, a caminho de Frascati em Castelgandolfo, residência de verão do Papa, abrigou as provas de canoagem e remo, com o próprio João XXIII assistindo as provas de sua janela.
No bairro de EUR – localizado do outro lado da cidade – foram erguidos os Palazzo e Pallazzetto dello Sport, arenas utilizadas em vários esportes.
A Basílica de Maxientius – fato inédito na história dos Jogos, uma igreja ser utilizada para as disputas – foi palco da Luta. Nas ruínas das Termas de Caracalla, a Ginástica se apresentou.
Entretanto, as maiores honras ficaram para os competidores da Maratona – devido ao calor, pela vez e única disputada à noite, com o trajeto iluminado por tochas – que percorreram as Vias Appia Antica e Aurelia, com chegada no Arco de Constantino ao lado do Coliseu.
Na política, o mais marcante foi a reunificação esportiva da Alemanha por determinação do COI, fato que nem a ONU conseguiu.
Por sua política do apartheid, a África do Sul foi impedida de participar dos Jogos.
A cerimônia de abertura realizada no dia 25 de agosto contou com 5.338 atletas de 83 países – 3 países a mais que o número de países membros -, novo embaraço para a ONU.
Como foi vetado o uso do nome China, Taiwan desfilou sob protesto.
Marcados pela grande novidade tecnológica, a transmissão televisiva, os Jogos foram encerrados no dia 11 de setembro com estádio entoando a canção “Arrivederci Roma”.
A medalha de 1960
Excepcionalmente para os Jogos de Roma em 1960, frente e verso da medalha padrão foram invertidos.
As medalhas em Roma foram criadas com um colar de bronze, lembrando uma coroa de louros.
No restante, a medalha é idêntica à medalha de 1928, exceto pela inscrição: “GIOCCHI DELLA XVII OLIMPIADE ROMA MCMLX”. (´JOGOS DA XVII Olimpíadas ROMA 1960´).
Maiores medalhistas
Atleta | País | Esporte | Total | Ouro | Prata | Bronze | |
Boris Shakhlin | União Soviética | Ginástica | 7 | 4 | 2 | 1 | |
Larissa Latynina | União Soviética | Ginástica | 6 | 3 | 2 | 1 |
Destaques
Abebe Bikila, descalço conquista Roma
A maior, a mais espetacular e legendária vitória entre as ruínas e edificações históricas da Cidade Eterna foi protagonizada por um negro espigado, usando um fino bigode e que corria descalço: o etíope Abebe Bikila, um genuíno símbolo do continente africano na Maratona. No início da prova Bikila e seu companheiro
Abebe Wakgira (sétimo colocado) foram ridicularizados porque ninguém acreditava ser possível correr os 42.195 metros com os pés descalços.
Apesar de o soviético Sergei Popov – melhor marca da distância na época – ser o grande favorito, no quilômetro 17 Bikila, que era soldado da guarda imperial, e o sargento do regimento de atiradores marroquino Rhadi Ben Abdesselem lideravam.
Com os dois modestos soldados impondo seus ritmos nos antigos calçamentos, a noite caía e o caminho veio a ser iluminado por milhares de fantasmagóricas, porém simbólicas tochas. Seguiram juntos pela Via Ápia – tão carregada de histórias – com passadas largas e ritmadas até o quilômetro 39 e, justo na frente da igreja Domine, Quo Vadis, Bikila assumiu a liderança solitária.
Em frente ao Arco de Constantino – local onde 25 anos atrás, Mussolini postara suas tropas para conquistar a Abissínia, antigo nome da Etiópia e pátria de Bikila -, sua imagem cruzando a linha de chegada é uma das mais belas da história das Olimpíadas.
Em Tóquio, já sargento real e recém-operado do apêndice, Bikila correu calçando tênis e conquistou o bicampeonato. Tentou a terceira medalha no México, mas desistiu por um problema no joelho.
Porém assistiu seu compatriota Mamo Wolde conquistar a medalha de ouro. Um ano mais tarde, dirigindo o Volkswagen que ganhara do governo etíope, sofreu um acidente e ficou paraplégico. Em Munique Bikila novamente impressionou a todos em uma cadeira de rodas, compondo uma imagem tão diferente de suas passadas descalças em Roma.
Morreu meses mais tarde, aos 41 anos, e o presidente Haile Salassié concedeu-lhe a mais alta condecoração da Etiópia.
Wilma Rudolph, a Gazela Negra
Wilma Rudolph, esbelta e bela negra americana de 20 anos, 59 quilos e 1,80 de altura, apelidada de “Gazela Negra” por sua elegância e velocidade, ganhou os 100, 200 e o revezamento 4 x 100 metros.
Abandonou o esporte dois anos depois dedicando-se à integração dos negros, pois acreditava que suas batalhas na vida eram mais importantes que a pista de Atletismo.
Wilma era uma pessoa simples e que teve uma infância pobre e difícil, tendo uma infecção grave em uma perna aos 4 anos.
Dedicando-se ao Basquete e ao Atletismo na adolescência, aos 16 anos, em Melbourne, fora eliminada nos 200 metros, levando apenas o bronze no 4 x 100, mas se tornou a Rainha dos Jogos de Roma.
Mais Rápido que o Gatilho: Armin Hary
Antes dos Jogos o alemão Armin Hary correu três vezes os 100m rasos em 10 segundos, obtendo a homologação do seu recorde mundial apenas na terceira vez, pois a IAAF suspeitara que ele “roubava as saídas” devido à sua esmerada técnica de largada.
Em Roma, na disputa da final após duas falsas saídas, uma delas cometida por Dave Sime, um dos favoritos da prova, Hary tomou todo cuidado, largou por último e, com uma aceleração perfeita, cravou 10.2 segundos vencendo os 100 metros.
O doping que mata
Pedalando em casa e contando com o auxílio dos fanáticos torcedores, a Itália ganhou cinco das seis medalhas, com destaque para o pequeno Sante Gaiardoni, de 1,67 de altura.
A única derrota italiana ocorreu na prova Individual de Estrada, onde o ídolo local Livio Trapé foi superado pelo soviético Viktor Kapitonov em decisão no photo-finish.
O fato lamentável da competição foi o doping do dinamarquês Knut Jensen que ingeriu um estimulante para a circulação sanguínea chamado “Ronicol”. Com a temperatura durante a prova de aproximadamente 34 graus, Jensen não suportou a insolação e os efeitos secundários da droga, vindo a falecer.
As 7 medalhas de ouro do húngaro Aladár Gerevich na Esgrima de 1932 até 1960
Ano Prova Vitórias Derrotas Matchs + Matchs – Toques a favor Toques contra
1932 Equipes 3 0 31 6
1936 Equipes 3 0 32 10
1948 Individual 7 0 35 18
1948 Equipes 3 0 29 13
1952 Equipes 3 0 34 13
1956 Equipes 3 0 30 15
1960 Equipes*
*as fontes consultadas não registram o número de matchs ou toques da competição.
O maior de todos os tempos: Cassius Clay posteriormente Muhammad Ali
Antes de mudar seu nome para Muhammad Ali, aos 18 anos o americano Cassius Marcellus Clay, de Louisville, Kentucky, chegou a Roma sonhando com a medalha de ouro dos meio-pesados.
Na Vila Olímpica integrou-se facilmente, tirando fotos e fazendo amizades. No ringue venceu o belga Yan Becaus – campeão olímpico de 1956 -, o soviético Gennady Schatkov, o australiano Tony Madigan e, na final, o veterano polonês Zbigniew Pietrzykowski.
Ao ser perguntado por um repórter soviético o que ele, como negro, achava de não poder comer em alguns restaurantes, Clay respondeu: “os Estados Unidos é o maior país do mundo e existem mais lugares que posso frequentar que lugares aonde não posso ir”.
Depois de ter sido recebido em sua cidade natal com muita festa, dormindo e andando com a medalha de ouro no peito, foi impedido de entrar num restaurante reservado para brancos. Apesar de ter assinado um contrato como profissional
com dez milionários, brancos, no qual se estabelecia que Clay teria todo tipo de apoio – ao se retirarem do restaurante, ele e o amigo Ronnie King foram atacados por uma gangue de motoqueiros brancos: depois de muita briga e muito sangue Clay, desiludido, atirou a medalha no Rio Ohio.
Em suas memórias, Ali escreveu que “a medalha foi, mas a partir daí eu me senti mais calmo, relaxado e confiante. Aquele fato marcou o fim das férias com a ‘esperança branca’, com minha força sendo renovada”.
Após ser reconhecido mundialmente como o “maior boxeador de todos os tempos”, cotado como o “Atleta do Século”, Ali, que há vários anos sofre do “mal de Parkinson”, acendeu a pira olímpica em Atlanta e, por iniciativa do presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, recebeu uma medalha de ouro simbolizando sua vitória em Roma.
Ouro disputado entre irmãos: Raimondo e Piero D´Inzeo
Numa duríssima disputa doméstica, os irmãos italianos Raimondo e Piero D´Inzeo, que haviam levado prata e bronze respectivamente em Helsinque quatro anos antes, entraram na pista para suas derradeiras apresentações.
Montando o “The Rock”, Piero saltou primeiro e cometeu dezesseis faltas. Logo depois veio Raimondo, com o seu magnífico cavalo Posillipo, com doze faltas, conquistando assim o inédito título para Itália.
Aliás, única vez na história das Olimpíadas em que dois irmãos, disputando um contra o outro, subiram os dois degraus mais altos do pódio.
Acaba a Primeira Dinastia: Índia no hóquei na grama
Nas quartas-de-final, enquanto a Índia precisava de duas prorrogações para vencer a Austrália, a Grã-Bretanha jogou seis tempos extras para bater o Quênia, com gol de Christopher Saunders após 127 minutos de jogo.
As semifinais foram partidas tensas, com Paquistão e Índia vencendo Espanha e Grã-Bretanha pelo mesmo placar de 1 a 0.
Quando entraram em campo para disputar a final os indianos traziam uma série invicta de 30 partidas, 197 gols a favor e apenas 8 contra. Contudo os paquistaneses não se intimidaram, partiram para o ataque e, aos 12 minutos do primeiro tempo, Nasir Ahmad marcou o gol da vitória do Paquistão.
Enquanto os paquistaneses entravam em êxtase, na Índia a derrota foi recebida como uma tragédia nacional, com os planos para reconquistar o título em Tóquio imediatamente iniciados.
Campanha da Índia de 1928 até a semifinal em 1960
Ano Jogos Vitórias Derrotas Gols a favor Gols contra
1928 5 5 0 29 0
1932 2 2 0 35 2
1936 5 5 0 38 1
1948 5 5 0 25 2
1952 3 3 0 13 2
1956 5 5 0 38 0
1960 5 5 0 19 1
Total 30 30 0 197 8