Em 2009, Robin Soderling surgiu para os fãs de tênis ao redor do planeta como o primeiro atleta a vencer Rafael Nadal em Roland Garros, reino sagrado do espanhol. Dois anos depois, ele ocupava a quinta colocação do ranking mundial. O que parecia ser a consolidação de uma carreira de sucesso na verdade escondia um mergulho no lado mais sombrio da alma humana.
Em um relato brutalmente honesto ao site da ATP (Associação de Tenistas Profissionais), o sueco detalhou a batalha que travou por anos com sua mente e seu corpo, enquanto ainda disputava o exigente circuito profissional de tênis.
“Em 2011, eu estava na melhor forma física da minha vida. Era um dos cinco melhores jogadores no mundo, havia ganhando quatro torneios até o fim de julho. Mas de um dia para o outro eu não conseguia dar um passo. Não conseguia respirar”, relembra Soderling.
O ex-tenista estava vivenciando sintomas iniciais de ansiedade e crise de pânico, mas o preconceito tão arraigado na sociedade contra questões psicológicas não permitiu que ele buscasse a ajuda necessária para lidar com a situação naquele momento.
“Os problemas começaram com meu sistema imunológico. Eu ficava doente com frequência, gripado, com a garganta inflamada e febre. Eu me sentia realmente zonzo e com problemas para dormir. Mas eu era uma daquelas pessoas que achavam que nunca iriam quebrar”, relatou ele.
“Quando eu ouvi sobre eles [os problemas psicológicos], eu disse ‘ok, mas isso acontece apenas com pessoas fracas’. Eu era o cara perfeito para ter um esgotamento mental, eu não estava escutando o meu corpo. Estava forçando e passando dos meus limites, que era como eu fiz a minha vida inteira. Minha única resposta para os contratempos era forçar ainda mais. Buscar a perfeição significava colocar os resultados à frente do meu próprio bem-estar”, continuou Soderling, que em uma entrevista recente revelou que chegou a pesquisar no Google maneiras de se matar, mas encontrou no tratamento psicológico e apoio de um amigo que passou pelo mesmo problema as armas para lutar contra seus próprios monstros.
O sueco resolveu falar tão abertamente sobre suas questões psicológicas em uma tentativa de ajudar outros atletas e pessoas. “Nos primeiros anos, eu estava realmente preocupado que nunca mais me sentiria bem ou teria uma vida normal novamente. Eu pensava que iria enlouquecer, não tinha as ferramentas para lidar com isso. Não sabia o que estava acontecendo, e acho que isso piorou a situação ainda mais. Havia uma ideia que disparava a minha ansiedade ainda mais: ‘o que aconteceria se eu tivesse de viver naquele inferno a minha vida inteira?’”, contou o ex-tenista, que teve sua carreira interrompida precocemente por uma mononucleose.
“Atletas falam de suas lesões o tempo todo, mas nós nunca discutimos doenças mentais. Ex-tenistas me contaram que sofreram com problemas psicológicos e alguns deles se aposentaram por causa disso. Mas eles nunca contaram para ninguém. É tão mais fácil dizer ‘meu ombro não está bom, meu joelho está lesionado e é por isso que me aposentei’. Eu acho que isso é uma pena. Não acho que podemos facilitar a vida das pessoas em todo o mundo que lidam com este problema terrível se não começarmos a encarar a doença mental tão seriamente quanto deveríamos”, encerrou Sordeling.