A distribuição dos direitos de transmissão no futebol brasileiro movimenta uma fortuna todos os anos e representa uma das principais fontes de receita dos clubes. Em 2025, o mercado de transmissões no Brasil viveu um novo cenário após acordos complexos envolvendo diferentes emissoras e plataformas — fruto de mudanças legais e negociações entre as ligas e empresas de mídia.
Entender como esse dinheiro é dividido e por que o Brasil tem um dos sistemas mais desiguais do mundo é essencial para compreender o impacto financeiro no esporte nacional.
Como os direitos de transmissão funcionam no Brasil?
Com a implementação da chamada “Lei do Mandante”, os clubes brasileiros ganharam o direito de negociar individualmente os direitos de transmissão de seus jogos, o que gerou uma fragmentação no mercado.
Atualmente, tanto o Grupo Globo quanto outras plataformas, como CazéTV, Amazon Prime Video e ESPN, participam da exibição das competições nacionais, com diferentes pacotes e formatos (TV aberta, pay-per-view e streaming).
Esse novo cenário marcou a entrada de diversos agentes no processo de transmissão do futebol masculino, criando uma diversidade de opções para o torcedor, ainda que nem sempre fácil de acessar devido à exigência de assinaturas ou internet estável em diferentes regiões.
Por que a distribuição no Brasil é tão desigual?
O Brasil destaca-se entre as principais ligas do mundo por ter uma distribuição extremamente desequilibrada da renda dos direitos de transmissão entre seus clubes. Dados de 2024 mostraram que o Flamengo, clube no topo da lista, recebia mais de sete vezes o valor recebido pelo clube com menor receita de transmissão. Esse índice de desigualdade é maior do que em muitas competições europeias.
Essa disparidade se deve a vários fatores, incluindo acordos históricos entre grandes clubes e emissoras, ausência de um modelo coletivo unificado de distribuição e diferenças significativas na atração de audiência e valor comercial de cada clube — fatores que não são tão controlados ou mitigados no sistema brasileiro, ao contrário de ligas europeias mais estruturadas.

Como outras ligas tratam a distribuição de receita?
Ligas como a Premier League inglesa, La Liga e Bundesliga utilizam modelos mais equilibrados de distribuição dos direitos de mídia, com uma parte significativa dos recursos sendo compartilhada de forma igualitária entre todos os clubes.
Por exemplo, na Premier League, cerca de 80 % da renda dos direitos de transmissão é distribuída entre os clubes, com diferentes critérios para equilibrar mérito esportivo e igualdade. As principais diferenças entre o modelo europeu e o brasileiro incluem:
- Distribuição mais igualitária: mesmo os clubes menores recebem uma parcela significativa dos direitos.
- Negociação coletiva: grande parte do contrato é negociada em conjunto pela liga, evitando disparidades extremas.
- Receita internacional robusta: direitos de transmissão no exterior aumentam a arrecadação total e beneficiam todos os clubes.
- Critérios de meritocracia e base fixa: parte do valor é distribuída com base na classificação, mas não compromete a base mínima de todos os times.
- Estabilidade financeira: esse modelo permite previsibilidade e planejamento de longo prazo para todos os clubes.
Quais efeitos essa desigualdade tem no futebol brasileiro?
Quando um clube recebe uma fatia muito maior dos direitos de transmissão do que os demais, isso fortalece ainda mais sua capacidade financeira e competitiva, enquanto clubes menores enfrentam dificuldades orçamentárias significativas.
Esse desequilíbrio impacta diretamente a competitividade do campeonato, criando diferenças claras entre o poder de investimento dos clubes e influenciando a capacidade de contratar jogadores, investir em infraestrutura ou manter categorias de base.
Apesar de novas regras e tentativas de reformulação, o desafio de criar um modelo mais equilibrado no Brasil persiste, e sua resolução é vista como importante para reduzir disparidades e promover maior justiça financeira no futebol nacional.





