O ponto de partida está nas receitas do petróleo e do gás natural, que garantem aos países árabes uma das maiores reservas financeiras do planeta. Desde o início dos anos 2000, parte desses lucros foi redirecionada para investimentos esportivos, com o objetivo de diversificar a economia e reduzir a dependência do setor energético.
Como o esporte se tornou uma ferramenta política e de imagem?
A compra de clubes, patrocínios e contratações milionárias fazem parte de uma estratégia conhecida como sportswashing, em que governos buscam melhorar sua reputação internacional por meio do esporte. A aquisição do Paris Saint-Germain pelo Qatar Sports Investments e do Manchester City pelo City Football Group, dos Emirados, são exemplos emblemáticos dessa política.
Por outro lado, a criação de ligas nacionais mais competitivas também serve a um propósito interno. Os governos desejam estimular o turismo, o consumo e o orgulho nacional, transformando o futebol em uma vitrine do progresso e da modernização de suas sociedades.

Quais são os principais clubes envolvidos nesse movimento?
A Saudi Pro League, liderada por clubes como Al Hilal, Al Nassr, Al Ittihad e Al Ahli, tornou-se símbolo dessa nova era. Essas equipes atraíram estrelas como Cristiano Ronaldo, Karim Benzema e Neymar, oferecendo contratos que superam os salários europeus e garantem status global à competição.
Além disso, ligas menores no Catar e nos Emirados Árabes seguem o mesmo caminho, ainda que em escala reduzida. O foco não é o lucro imediato, mas a construção de prestígio e influência internacional.
De onde vem o dinheiro que sustenta esses investimentos?
Grande parte das receitas vem de fundos soberanos, instrumentos financeiros criados pelos governos para gerir os lucros do petróleo e investir globalmente. O Public Investment Fund (PIF), da Arábia Saudita, é um dos mais poderosos, com ativos superiores a US$ 700 bilhões.
Esses fundos atuam como braços estatais, aplicando recursos em setores estratégicos como tecnologia, turismo e esporte. Assim, o futebol torna-se uma ferramenta de projeção de poder e de consolidação de parcerias comerciais no Ocidente.
O que motiva os jogadores a aceitarem essas propostas?
O fator financeiro é decisivo. Contratos árabes oferecem valores muito acima dos padrões europeus, além de benefícios fiscais e estrutura de luxo. No entanto, há também o aspecto simbólico: representar o crescimento de novas potências esportivas desperta curiosidade e prestígio entre os atletas.
Ao mesmo tempo, alguns jogadores veem essas transferências como oportunidade de protagonismo. Em ligas menos competitivas, tornam-se as principais figuras, com liberdade criativa e responsabilidade institucional inédita.
Como esses gastos impactam o mercado global do futebol?
Os investimentos árabes inflacionam o mercado e alteram o equilíbrio financeiro das grandes ligas. Clubes europeus são forçados a rever estratégias salariais e de captação de talentos, enquanto o poder de negociação dos atletas atinge patamares históricos.
Por outro lado, o fluxo de capital impulsiona a economia do futebol como um todo. Direitos de transmissão, marketing e turismo esportivo crescem em escala internacional, fortalecendo o papel do Oriente Médio como novo polo global do esporte.
O que podemos aprender com o poder árabe no futebol?
O fenômeno mostra que o futebol transcendeu o campo esportivo. Hoje, ele é um ativo geopolítico, uma plataforma de influência e uma poderosa ferramenta de comunicação entre culturas. O dinheiro árabe não apenas compra jogadores, ele compra narrativas e reposiciona nações inteiras no cenário mundial.
Com isso, entender como os árabes pagam valores tão altos por jogadores de futebol é compreender o novo jogo do poder global. E, nesse tabuleiro, o futebol é apenas o campo onde a disputa se torna visível.





