A mãe de Tatiane Tafner fez intercâmbio em San Diego quando tinha somente 15 anos e teve o primeiro contato com a cultura do futebol americano. O Sunday Night Football é praticamente um ritual sagrado semanal nas famílias dos Estados Unidos. Ali nascia uma grande paixão, mesmo que ainda não identificada: os Chargers, da NFL, que não pertenciam à ‘cidade dos anjos’, até então.
O irmão de Tatiane seguiu o mesmo caminho, com a mesma família. Quando foram visitá-lo nos EUA, a família que o recebeu contagiou a todos com a paixão pela franquia. Tati e seu pai, Cláudio, foram os que mais se apegaram e seguiram adiante com o fervor da torcida, acompanhando às partidas juntos.
A NFL e o futebol americano representaram um elo entre os dois. A proximidade que existia se tornou apenas mais intensa.
Em 2010, contudo, um novo capítulo marcou a história de ambos para sempre: o diagnóstico de ELA. “Cuida dos seus filhos, porque em seis meses você vai falecer”; essa foi a frase ouvida por Cláudio pela médica. “Não, essa doença não vai parar você”; essa foi a resposta da família para o pai de Tati, repleta de força e confiança em um ciclo pleno e digno de vida.
Todo momento poderia ser o último. Tudo ficou mais especial. Cada segundo era o melhor e mais bem aproveitado. “Ele ficou dependente da gente por uns sete, oito anos, mas a gente buscou dar o máximo de conforto para ele apesar da doença”, contou Tati ao SportBuzz.
“Ele virou um outro homem. Ele tinha muito mais alegria na vida. Apesar de tudo isso, ele conseguiu viver muito bem”. Desde o diagnóstico, Cláudio permaneceu com sua família por muitos anos até falecer, em 2022. Com Tati, ficou a memória do homem vibrante que compartilhava o amor pelo esporte.
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Assim, a memória alimentou o sonho, e o sonho virou realidade. A NFL anunciou a partida entre Los Angeles Chargers e Kansas City Chiefs em São Paulo. Sem nunca assistido a um jogo da liga in loco antes, Tati não teve dúvidas de que precisava estar na Neo Química Arena no dia 5 de setembro. A data, inclusive, parecia definida pelo destino: bem no aniversário de Cláudio.
Ela teve problemas iniciais para conseguir o ingresso, mas não desistiu. “Eu pensei: ‘Eu vou ter que conseguir. Independentemente do lugar, eu tenho que ir’. Não era só para eu torcer, meu pai estava ali comigo. Consegui, fui bem perto do campo”, contou.
“Eu tinha muito a sensação de que a gente iria ganhar. Foi muito difícil, os Chiefs são um dos maiores times da NFL. Mas foi emocionante. O primeiro touchdown foi bem na minha frente. Mesmo sem meu pai estar comigo fisicamente, eu sentia que ele estava ali, no meu coração. E eu tenho certeza de que, onde quer que ele esteja, ele estava torcendo comigo”.
Tudo estava escrito. A história de Tati ao lado de seu pai. O amor pelos Chargers. A continuidade da presença de Cláudio de forma espiritual, reacendida pelo esporte e pela vivência de momentos para nunca esquecer. Em meio a uma trajetória agridoce, que contempla tanto a perda quanto o ganho, uma lição foi aprendida.
“O que a doença do meu pai me ensinou é que a gente tem que viver o hoje. Ele poderia literalmente morrer a qualquer muito, então a gente começou a aproveitar muito os momentos presentes, até os mais simples, como assistir a futebol americano na TV. A gente nunca sabe o dia de amanhã”, disse Tati.
“O falecer, a morte, não é uma coisa ruim, é o ciclo natural da vida. Mas acho que a gente não precisa esquecer das pessoas depois que elas morrem. A gente ainda pode sentir elas com a gente”.
