A presença de Pelé e Garrincha no cinema brasileiro transcende as quatro linhas do campo e marca uma fase singular da cultura nacional. Mais do que ídolos esportivos, os dois eternos craques também se tornaram personagens marcantes da sétima arte, levando a magia do futebol para as telas e conquistando ainda mais admiradores por meio do audiovisual.
Este artigo explora como Pelé e Garrincha foram retratados no cinema brasileiro, desde participações em filmes até documentários que reconstroem suas trajetórias. A proposta é revisitar momentos históricos, entender o impacto dessas produções e refletir sobre o legado cinematográfico que ambos deixaram para o esporte e para a cultura brasileira.
Como começou a ligação entre Pelé, Garrincha e o cinema?
A relação entre os craques e o cinema começou ainda durante suas carreiras, quando o futebol se firmava como parte da identidade nacional e o cinema buscava captar essa paixão coletiva. Pelé, com sua figura carismática, logo chamou atenção de cineastas e produtores internacionais. Garrincha, por sua vez, encantava com seu talento genuíno e espírito popular.
O cinema brasileiro dos anos 1950 e 1960 via no futebol uma forma poderosa de comunicação. Filmes documentais, como “Garrincha, Alegria do Povo”, lançado em 1963, foram os primeiros a captar essa conexão. Já Pelé estrearia como ator anos depois, dando início a uma participação mais ativa nas telonas.
Em quais filmes Pelé participou como ator?
Pelé não se limitou a ser retratado, ele também atuou. Sua estreia como ator aconteceu em “Os Trombadinhas” (1979), dirigido por Anselmo Duarte. Na produção, ele interpreta a si mesmo em uma trama infantojuvenil com toques sociais, refletindo sua imagem como herói nacional.
Um dos filmes mais conhecidos com sua participação é “Fuga para a Vitória” (1981), uma coprodução internacional ao lado de Sylvester Stallone e Michael Caine. Pelé vive um prisioneiro de guerra que joga futebol contra soldados nazistas, destacando sua habilidade mesmo em um contexto fictício de guerra. Essas participações consolidaram sua imagem global e mostraram que o Rei do Futebol também tinha presença de cena.
Como Garrincha foi retratado nas produções nacionais?
Garrincha teve uma abordagem mais documental no cinema. Em “Garrincha, Alegria do Povo”, de Joaquim Pedro de Andrade, o jogador é mostrado em sua essência: popular, irreverente e livre. O filme mistura imagens de arquivo com narrativa poética e é considerado uma das melhores obras do cinema novo.
Outros filmes exploraram aspectos íntimos de sua vida, como o documentário “Garrincha – Estrela Solitária”, baseado no livro de Ruy Castro. Diferente da visão mitológica comum em torno de Pelé, Garrincha é retratado com nuances, entre o gênio da bola e o homem comum que enfrentava desafios fora de campo.
Qual foi o impacto cultural dessas representações?
A presença de Pelé e Garrincha no cinema brasileiro ajudou a consolidar o futebol como elemento central da cultura nacional. Pelé se tornou símbolo de superação e sucesso internacional. Garrincha virou ícone do talento espontâneo e da melancolia que marca a vida de tantos gênios incompreendidos.
Ambos contribuíram para que o futebol fosse visto além do esporte — como narrativa de identidade, emoção e humanidade. As produções que os envolvem não apenas entretêm, mas também educam e emocionam, ajudando novas gerações a compreender o valor desses atletas.
Quais curiosidades cercam Pelé e Garrincha nas telas?
Uma curiosidade é que Pelé participou de filmes em diversos países, incluindo produções na Itália e nos Estados Unidos. Ele chegou a recusar propostas de Hollywood para preservar sua imagem de ídolo esportivo. Já Garrincha, que era mais reservado, jamais atuou como ator, mas sua autenticidade foi captada de forma crua e real.
Outra peculiaridade é que em “Garrincha, Alegria do Povo”, boa parte das filmagens foi feita durante jogos reais, sem roteiro rígido, o que dá ao documentário um aspecto quase mágico. Já Pelé teve a experiência de gravar cenas coreografadas, como no famoso gol de bicicleta em “Fuga para a Vitória”.
Qual é o legado de Pelé e Garrincha no cinema esportivo brasileiro?
O legado de Pelé e Garrincha no cinema brasileiro permanece vivo. Suas trajetórias inspiram filmes, séries e documentários até os dias atuais. Eles abriram caminho para que outros atletas fossem retratados como personagens complexos, humanos e inspiradores.
Além disso, suas histórias ajudaram a posicionar o futebol brasileiro como um fenômeno global, inclusive na cultura audiovisual. Documentários modernos, como os disponíveis em plataformas de streaming, retomam suas jornadas com novos olhares, preservando a memória e convidando o público a revisitar emoções que atravessam gerações.
Por que revisitar essas obras ainda é relevante hoje?
Em tempos de mudanças rápidas e ídolos passageiros, revisitar a presença de Pelé e Garrincha no cinema brasileiro é resgatar valores atemporais: o talento, a paixão, a superação e, principalmente, a identidade nacional construída pelo futebol.
Essas obras funcionam como arquivos vivos da nossa cultura e têm o poder de unir esporte e arte em um só campo. Elas servem não apenas para entreter, mas para lembrar que futebol também é expressão, narrativa e memória coletiva.
Uma trajetória além dos gramados
Pelé e Garrincha construíram legados que vão muito além dos gols e dribles. No cinema, encontraram uma nova forma de eternizar suas histórias e ampliar ainda mais sua conexão com o povo. Enquanto Pelé abraçou a ficção e a atuação, Garrincha foi imortalizado em sua essência mais pura.
Revisitar esses momentos é reencontrar o Brasil que torce, que sonha e que conta sua história por meio do esporte e da arte. Afinal, quando as luzes se apagam e o filme começa, ainda é possível ouvir os ecos de um Maracanã lotado e ver o brilho de dois gênios que nunca deixaram de encantar.