* Texto escrito pelo Dr. Rodrigo Martínez, médico esportivo e ortopedista
No Jogo 7 da final da NBA, o que deveria ser uma noite histórica para o Indiana Pacers e para Tyrese Haliburton acabou se transformando em um dos episódios mais temidos no esporte de alto rendimento: a ruptura total do tendão de Aquiles.
Quem acompanhava percebeu o momento exato: uma tentativa de aceleração, mudança de direção, e imediatamente Haliburton parou, olhando para trás, como se alguém tivesse chutado sua perna. Esse é exatamente o relato clássico de quem sofre essa lesão. O barulho do ginásio, que até então era de tensão pela partida, se transformou em apreensão. A expressão dele não deixava dúvidas: algo muito sério havia acontecido. E veio a confirmação do rompimento total do tendão de Aquiles.
Por que isso acontece tanto na NBA e logo na final?
O basquete de alto rendimento, especialmente nos playoffs e nas finais, é uma combinação explosiva de fatores de risco:
-
- Sequência intensa de jogos, com pouco tempo de recuperação;
- Aumento de carga física, mental e emocional nas finais;
- Jogos extremamente físicos, com intensidade acima do habitual;
- Alta demanda de saltos, acelerações, freios e mudanças bruscas de direção.
Ver essa foto no Instagram
E tem mais: o tendão de Aquiles sofre, ao longo dos anos, um processo de degeneração silenciosa. Isso não significa dor o tempo todo, mas sim uma perda de qualidade estrutural das fibras do tendão. Chega uma hora que o corpo não segura mais.
Haliburton é um atleta jovem, mas mesmo assim, a sobrecarga imposta na sequência final de temporada é absurda. No limite da fisiologia, qualquer falha biomecânica, um apoio errado, uma sobrecarga pontual, um estresse acumulado vira gatilho para uma lesão dessa magnitude.
Números de lesões na NBA:
- Ruptura do tendão de Aquiles é uma das 3 lesões mais temidas no basquete profissional;
- Mais de 36 casos na NBA desde 2005;
- A taxa de retorno é de 70%, mas menos da metade volta no mesmo nível de performance;
- Jogadores mais explosivos, como armadores e alas, sofrem mais impacto na volta.

O que é a ruptura do tendão de Aquiles?
O tendão de Aquiles é o maior tendão do corpo, responsável por transmitir a força da panturrilha para o pé, basicamente, é ele quem faz você pular, acelerar, frear, mudar de direção e até caminhar.
A ruptura é o rompimento total desse tendão. Na prática, significa:
- Perda imediata da força do pé;
- Incapacidade de ficar na ponta dos pés;
- Sensação descrita como uma “pedrada” na parte de trás da perna;
- Dor, inchaço e incapacidade funcional instantânea.
E agora? Como é o tratamento de Haliburton?
O caminho é cirúrgico. O procedimento envolve:
-
- Sutura direta do tendão rompido;
- Dependendo do grau de retração, pode ser necessário usar enxertos ou reforços com tecidos adjacentes;
- Imobilização inicial com uma bota ortopédica, em posição de proteção do tendão.
Ver essa foto no Instagram
Recuperação de Haliburton:
- 0 a 6 semanas: Imobilização parcial, início de fisioterapia leve;
- 6 a 12 semanas: Retorno progressivo da amplitude de movimento e fortalecimento inicial;
- 3 a 5 meses: Fortalecimento ativo, treino de marcha, resistência e mobilidade;
- 6 a 9 meses: Início do treino físico de potência, impacto, aceleração e salto;
- 9 a 12 meses: Retorno gradual às quadras.
Sequelas e prognóstico:
- Perda de potência de salto;
- Dificuldade na explosão e nas mudanças de direção;
- Aumento de risco de lesões compensatórias (joelho, quadril, coluna);
- E mesmo quando a força retorna, a confiança no movimento nem sempre volta no mesmo tempo.
Por isso, é uma lesão que não impacta apenas fisicamente. Ela tem um peso psicológico enorme no atleta.
Por que é uma lesão tão temida na NBA?
Porque o basquete, mais do que qualquer outro esporte coletivo, vive da explosão.
- É o esporte dos saltos, da aceleração e da mudança de direção;
- Quando você perde 10% de potência na panturrilha, isso não é detalhe. Isso é a diferença entre enterrar… ou não;
- É a diferença entre marcar, atacar, defender ou simplesmente ser ultrapassado.
Conclusão sobre o drama de Haliburton:
Assim, a lesão de Haliburton não é só mais uma lesão. Ela acende de novo o alerta sobre os limites do corpo humano, principalmente no esporte de alto rendimento. O corpo cobra. E às vezes, cobra na final.