A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) se prepara para a eleição presidencial marcada para o dia 23 de março. Em meio a um mandato conturbado, o atual presidente e candidato à reeleição, Wlamir Motta Campos, enfrenta duras críticas vindas de federações estaduais e de ex-atletas de renome. As acusações giram em torno de dificuldades financeiras, transparência na administração e gestão de patrocínios.
Uma das polêmicas de maior impacto foi a troca de fornecedor de material esportivo da seleção brasileira de atletismo. A migração da Nike para a Puma gerou desconforto entre os atletas, especialmente durante a Olimpíada de Paris, quando uniformes foram alterados no decorrer da competição.
Fora das pistas, a discussão também se estendeu ao impacto financeiro da mudança. A CBAt perdeu um patrocínio de R$ 3 milhões da Nike, e o destino da verba tornou-se um ponto de interrogação. Wlamir Motta Campos defende que há um termo de confidencialidade impedindo a divulgação de detalhes, mas os presidentes de federações contestam essa justificativa, alegando o direito de acesso às informações.
Outro ponto sensível é a composição do Conselho de Administração, responsável por fiscalizar as decisões da CBAt. O órgão está desfalcado há mais de dois anos, mesmo sob forte pressão de membros da comunidade atlética.
Ex-atletas de destaque também se manifestaram contra a atual gestão. Maurren Maggi, campeã olímpica em Pequim, e André Domingos, medalhista em Sydney e Atlanta, questionam a distribuição de recursos destinados ao treinamento de atletas.
Um caso emblemático foi o da velocista Vitória Rosa, que precisou interromper seu treinamento internacional por falta de recursos para manter o treinador e a estrutura necessária. Segundo críticos da atual direção, a gestão financeira tem privilegiado apenas alguns nomes, gerando desigualdade na distribuição da verba.
Entramos em contato com Wlamir Motta para ouví-lo sobre cada um desses pontos. Confira:
Como o senhor responde às críticas dos presidentes de federações e ex-atletas medalhistas sobre a sua gestão?
É necessário compreender quais são as críticas específicas para que possamos responder com dados concretos. Nossa gestão tem sido pautada pela transparência, profissionalização, eficiência financeira e fortalecimento do atletismo nacional, com avanços expressivos na distribuição de recursos e programas de apoio. Para o registro da nossa candidatura tivemos o apoio de 20 das 27 federações. Vale destacar que em 2022 fomos eleitos pela World Athletics como a Melhor Confederação de Atletismo do Mundo, superando 212 países. Em 2023 foi eleito pela “Sou do Esporte” como “Gestor do Ano”, em 2024 recebeu da “Sou do Esporte “ o prêmio “Governança, boas práticas, Transparência” . Caso haja alguma insatisfação, estamos sempre abertos ao diálogo, mas é fundamental que qualquer questionamento seja embasado em fatos e não em narrativas infundadas.
Há uma preocupação recorrente em relação à condução financeira da CBAt. Por que o destino dos R$ 3 milhões repassados pela Nike não pode ser divulgado? Existe alguma forma de prestar esclarecimentos sem violar o termo de confidencialidade?
A CBAt teve um crescimento exponencial de receitas, passando de 21,5 milhões em 2020 para 40,8 milhões em 2024 e esse aumento foi direcionado prioritariamente para a atividade-fim. Os investimentos em atletas, treinadores, árbitros, clubes, centros de treinamento, federações e ídolos do atletismo foram ampliados. Paralelamente, houve uma redução expressiva das despesas administrativas, que passaram de 38% para 22% das receitas, bem abaixo do limite de 25% determinado por lei. Esse resultado reflete uma gestão eficiente, focada no desenvolvimento do atletismo e na valorização de seus protagonistas.
Sobre os uniformes da Nike, os materiais permaneceram em estoque até a chegada dos novos uniformes do novo patrocinador. A incineração seguiu E foi realizada por uma empresa especializada que ofereceu melhores condições financeiras e prazo de pagamento mais adequado ao fluxo de caixa da CBAt. Toda a incineração foi concluída, conforme demonstrado pela inexistência de uniformes antigos em circulação, e a contabilização seguiu rigorosamente os princípios contábeis, com baixa correta dos estoques e registro da entrada dos novos materiais somente no exercício seguinte e as demonstrações aprovadas pela Assembleia Geral realizada em março de 2024. A CBAt possui certificação de que trata a Lei Pelé, artigos 18 e 18A bem como a Lei Geral do Esporte, todas as nossas certidões negativas estão publicadas em nosso website com absoluta transparência.
A troca de fornecedor de material esportivo, passando da Nike para a Puma, gerou reclamações entre os atletas durante os Jogos Olímpicos de Paris. Como foi tomada essa decisão e por que a mudança ocorreu já durante a competição?
O contrato com a Nike foi encerrado em 2021, e a Puma assumiu como fornecedora oficial em 2022. Inicialmente, o contrato com a Puma teria duração de três anos, mas, logo no primeiro evento da parceria, o Campeonato Mundial, a patrocinadora demonstrou plena satisfação e renovou antecipadamente o contrato. Hoje, o acordo é o mais longevo entre marcas esportivas no Brasil, com vigência até 2032. As reclamações ocorridas em Paris foram pontuais e resultantes de mal-entendidos, pois parte do material foi entregue diretamente no evento, sendo os 2 atletas atendidos e satisfeitos. No entanto, a aceitação geral foi extremamente positiva, conforme constatado pelos atletas em suas redes sociais refletindo a qualidade e os benefícios desse novo contrato.
O Conselho de Administração encontra-se desfalcado. Por que a demora para completar a equipe e quais impactos essa ausência tem na governança da CBAt?
A governança da CBAt garante representatividade de diferentes segmentos do atletismo, contando com dois membros da Comissão de Atletas, um medalhista olímpico, dois presidentes de federação, um representante da World Athletics, além do presidente e vice-presidente da CBAt. A saída de um membro do Conselho foi uma decisão pessoal unilateral do conselheiro. Lançamos edital para a reposição dessa vaga, porém não houve candidatos, a assembleia foi realizada no dia 23 de dezembro e transmitida ao vivo demonstrando o compromisso dessa gestão com a transparência. A governança não foi impactada.
Ex-atletas como Maurren Maggi e André Domingos afirmam que há perseguição a determinados atletas e que a verba de treinamento não está sendo distribuída de forma justa. Como o senhor avalia essas alegações?
A distribuição de recursos segue regulamentos amplamente divulgados e publicizados, debatidos pelo Conselho Técnico e aprovados pelo Conselho de Administração garantindo acesso a qualquer interessado. O Programa Ídolos do Atletismo mais que dobrou o número de beneficiários, passando de 13 em 2020 para 31 em 2024, além de aumentar o valor pago em ações individuais. A Seleção Permanente, um dos maiores programas entre confederações esportivas, atende quase 100 beneficiários, entre Treinadores e atletas, oferecendo apoio financeiro mensal e ajudas de custo através de pacotes de benefícios específicos para treinamentos, com critérios técnicos claros, definidos e publicados oficialmente. Além disso, todas as convocações para delegações e campings seguem normas previamente estabelecidas e são divulgadas em notas oficiais, assegurando total transparência no processo.
A velocista Vitória Rosa precisou interromper seu treinamento no exterior por falta de recursos. O que levou a essa decisão e quais critérios são usados para definir quem recebe apoio financeiro da CBAt?
Vitória Rosa é beneficiária do Programa Seleção Permanente e recebe apoio financeiro mensal. Além disso, ela solicitou suporte do pacote de benefícios, tendo acesso aos recursos conforme os critérios técnicos estabelecidos e divulgados oficialmente.
O senhor busca a reeleição em um cenário de críticas. Caso seja reeleito, quais medidas pretende adotar para melhorar a transparência, o apoio aos atletas e a governança da CBAt?
A CBAt é a confederação mais democrática do Brasil, com uma Assembleia composta por 70 membros. A transparência vai além do que é exigido em lei, com publicação de tudo que é possível e vem sendo aprimorada continuamente, com a reformulação do portal institucional, que permite acesso direto a todas as informações sem necessidade de cadastro. Esse processo continuará evoluindo, e até o segundo semestre de 2025 será implementado um acompanhamento mensal das demonstrações e execuções orçamentárias diretamente no site.
A governança da CBAt também é sólida, com independência entre os poderes e total profissionalização. Todos os cargos celetistas são preenchidos por meio de processos seletivos conduzidos por empresas especializadas, garantindo a escolha de profissionais qualificados, sem indicações para cargos.
Entre as ações futuras estão a manutenção de delegações completas, ampliação dos campings de treinamento, investimento específico em desenvolvimento. e capacitação, auxílio financeiro para atletas e treinadores em delegações, premiação para os três primeiros colocados no Troféu Brasil, capacitações para treinadores nos níveis 1, 2 e agora 3, reformulação do programa de apoio aos centros de formação com aumento dos valores de repasse, fortalecimento do marketing para valorização da marca e captação de novos patrocinadores, além de iniciativas como cursos para árbitros, medidores de percurso e o Summit de Corrida de Rua. Necessário destacar que em 2022 fomos eleitos pela World Athletics como a Melhor Confederação de Atletismo do Mundo, em 2023 fui eleito pela Sou do Esporte como “Gestor do Ano” e em 2024 recebemos da Sou do Esporte o Prêmio Governança, boas práticas Transparência.
Por que, em 2024, a CBAt acumula mais de R$ 5 milhões em valores a pagar, incluindo débitos com fornecedores, impostos, tributos e federações?
O montante registrado nas demonstrações financeiras inclui obrigações com vencimento em janeiro, como impostos, contratos e compromissos cujos fatos geradores ocorreram em dezembro. Isso não representa inadimplência, mas sim a forma correta de demonstrar a real posição financeira da CBAt. Além disso, o recebimento de uma parcela de receita originalmente prevista para dezembro ocorreu apenas em janeiro, impactando temporariamente o fluxo de caixa. Esse cenário foi refletido corretamente contabilmente, mas fizemos os pagamentos assim que recebemos o que é refletido na execução orçamentária, assegurando que todas as receitas e despesas de 2024 fossem registradas dentro do próprio exercício, sem comprometer o orçamento de 2025, em conformidade com as normativas contábeis e de prestação de contas.
Qual o motivo da proposta de redução orçamentária do programa Ídolos do Atletismo? O valor previsto para 2025 é 18% menor do que o necessário para manter os pagamentos dos medalhistas.
Não houve redução orçamentária. A CBAt segue na contramão de outras confederações que estão encerrando ou diminuindo esses programas. O número de beneficiários aumentou de 13 para 31, e o valor recebido por cada atleta crescerá em 2025, incluindo pelo menos mais uma parcela. devido à necessidade de aguardar a eleição para assinatura do novo contrato de patrocínio, o programa só será renovado após a assinatura do contrato, o que garantirá a continuidade do programa com segurança financeira.
