Reconhecido mundialmente como a maior lenda do futebol, Pelé transcendeu os gramados, tornando-se uma figura emblemática na luta antirracista. Sua trajetória, marcada por talento inigualável e barreiras sociais superadas, é um exemplo de como o esporte pode ser uma plataforma poderosa para a justiça social.
Durante sua carreira, Pelé enfrentou episódios de racismo, especialmente em turnês internacionais e jogos fora do Brasil. Na Copa do Mundo de 1970, no México, o camisa 10 da Seleção Brasileira se uniu a outros jogadores para protestar contra a discriminação racial. Fora dos campos, manteve-se como um defensor ativo da igualdade, frequentemente abordando questões como desigualdade econômica e preconceito racial.
Em homenagem a Pelé no Fifa The Best, Ronaldo faz duro discurso contra o racismo e ressaltou importância do Rei para a causa #ge pic.twitter.com/Ggd8izv4mw
— ge (@geglobo) February 27, 2023
Críticas contra Pelé
Em 1995, como Ministro Extraordinário dos Esportes, Pelé fez um discurso contundente sobre racismo no Congresso Nacional: “Eu acho que o negro tem que se unir e tem que votar em negro para termos mais representatividade no governo.”
A declaração, dada também em entrevista a Jô Soares, refutou críticas de que o ex-jogador evitava se posicionar politicamente. Na ocasião, Pelé enfatizou que a representatividade negra no poder era essencial para promover justiça social e igualdade.
Pelé também foi alvo de ataques racistas, como relatou em uma entrevista sobre um episódio ocorrido na Itália. Ele lembrou como o preconceito afetava os jogadores negros, restringindo oportunidades e marcando a época. Apesar disso, usou sua influência para conscientizar a sociedade, como no célebre discurso após marcar seu milésimo gol, em 1969: “Pelo amor de Deus, o povo brasileiro não pode esquecer das crianças, as crianças necessitadas, as casas de caridade. Vamos pensar nisso.”
“Pelé deu representatividade ao brasileiro preto”
Para o comentarista esportivo Paulo Cesar Vasconcellos à BBC Brasil, Pelé foi essencial para a representatividade negra no Brasil: “O Pelé deu representatividade mundial ao brasileiro preto. Antes dele, já tínhamos figuras negras de destaque, mas ele trouxe visibilidade global.”
Vasconcellos também aponta uma complexidade no racismo brasileiro, que muitas vezes minimiza a identidade racial de figuras de destaque: “Quando um homem ou uma mulher negra ganham visibilidade, por vezes deixam de ser pretos [para a sociedade]. Ele não é um homem preto, ele é o Pelé. Isso também é racismo.”
As comparações entre Pelé e Muhammad Ali, outro ícone negro de sua época, são frequentes. No entanto, especialistas destacam que o contexto sociopolítico dos Estados Unidos, onde Ali atuava, era distinto do Brasil. O racismo no Brasil, muitas vezes velado, demandava ações diferentes. Ainda assim, a contribuição do Rei para o combate à discriminação racial é inegável.
“Desqualificá-lo como um homem que afirmou o povo preto é muitas vezes comentário de branco”, conclui Vasconcellos, reforçando o papel de Pelé como símbolo de resistência e representatividade.