Julia Soares sempre soube que a ginástica artística era o caminho ideal para sua vida. Aos quatro anos de idade, a joia brasileira se deparou com Iryna Ilyashenko, técnica ucraniana que vive no Brasil há mais de 20 anos. A parceria surgiu de forma imediata e trouxe o talento da ginasta para o alto rendimento.
Mas a trajetória de Julia nem sempre encontrou anjos no caminho. Natural de Curitiba, no Paraná, a menina de 19 anos precisou encontrar forças e resiliência para não parar no meio da formação como ginasta. A vida, muitas vezes, colocou obstáculos na carreira da atleta, mas quem nasceu para brilhar numa trave de 10 centímetros de largura não se abala com qualquer desafio.
E, 15 anos depois dos primeiros passos na ginástica, Julia Soares tem a certeza de que escolheu o caminho certo. Medalhista de bronze na Olimpíada de Paris, a curitibana esteve na redação do SportBuzz e concedeu entrevista exclusiva para falar sobre o momento especial da carreira, mas também demonstrar toda sua leveza e alegria por saber que vivenciou um dos maiores momentos da história do Brasil nos Jogos Olímpicos.

Julia Soares é medalhista olímpica
Com o bronze no peito e um sorriso de orelha a orelha, Julia conversou com o SportBuzz e relembrou o momento histórico vivido por ela. Ao lado de Rebeca Andrade, Flavia Saraiva, Jade Barbosa e Lorrane Oliveira, a ginasta subiu ao pódio na final por equipes e ajudou o Brasil a conquistar uma medalha inédita na história da ginástica artística. Sobre o dia histórico, Juju, como gosta de ser chamada, contou o ‘segredo’ para que as meninas e toda a equipe alcançassem feito tão marcante.
“Desde que eu entrei na seleção, eu treino com as meninas. Eu lembro que o início, quando eu treinava, eu ficava muito feliz. Era surreal aquele momento para mim. E eu treinar do lado de meninas, que são como inspiração para mim, é incrível. Eu vejo elas treinando e pego de exemplo para mim, sabe?! A gente conversa, a gente ri. Conversamos sobre a vida, sobre a ginástica. Uma dá dica para a outra, uma vai conhecendo mais sobre a outra. E isso foi o nosso diferencial nas Olimpíadas. A gente estava realmente como uma família“, detalhou Julia.
Julia Soares ainda fez questão de ressaltar que tamanha união não surge da noite para o dia. “Isso [a união] fez a gente chegar onde nós estamos hoje, o nosso inédito terceiro lugar. E isso não vem de agora, neste ano. A gente vem trabalhando isso há muito tempo. Foi o nosso diferencial, estávamos muito unidas. Quando vimos o terceiro lugar, todas nós ficamos emocionadas. Porque cada uma sabe o quanto de esforço teve neste processo, sabe?!“.
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A retomada de uma ginasta genial
Na conversa com o SportBuzz, Julia Soares demonstrou o quanto se cobra para colocar seu melhor em ação durante os torneios. Mesmo com a conquista inédita, a curitibana relembrou a queda que sofreu na trave durante a final. O momento de dificuldade, porém, não escondeu o talento nato da menina de 19 anos. “Ergue a cabeça, garota“, essa foi a frase dita por ela logo após a falha.
Resultado final: uma apresentação impecável na trave após a queda e o brilho no solo ao som de Raça Negra e Edith Piaf. Mesmo muito jovem, Julia revelou ter enorme consciência sobre a importância da saúde mental para se manter bem e preparada para os momentos mais desafiadores da carreira. “Eu trabalho muito a minha mente, sempre repasso as minhas séries. Foi meu psicólogo que falou isso. (…) o processo de ter um psicólogo é muito importante“.
Julia Soares e sua família
Muito madura e ciente do feito que conquistou, Julia Soares não deixou de lembrar do início da carreira na conversa com o SportBuzz. A atleta, no entanto, deixou claro que nem tudo foi fácil. Fabiana e Jackson, seus pais, tiveram papel fundamental na persistência da filha, que admitiu ter pensado em desistir no meio do caminho. Mas ver a família vendendo bombons e rifas para custear suas viagens para as competições fez com que Juju insistisse e chegasse ao topo do esporte mundial.
“Ter a minha família ao meu lado é o meu diferencial. Eu passei por muitos momentos em que eu achei que não seguiria a minha carreira na ginástica. Mas a minha família sempre me apoiou e falou assim: ‘Filha, a gente está aqui ao seu lado’. Quando eu era pequena, minha mãe deixou de trabalhar para proporcionar isso para mim e para minha irmã. Meu pai, todos os dias no trabalho, vendeu bombons para que a gente pudesse chegar onde a gente chegou hoje, onde eu fui [nas Olimpíadas]“.

O movimento “Soares”
Ainda com 15 anos, Julia Soares começou a treinar um movimento inédito e deixou claro que não veio para a ginástica de brincadeira. Em 2021, a ginasta homologou uma meia pirueta (180º) que faz o corpo ultrapassar a trave e terminar do lado oposto ao que começou, agarrada com os braços de cabeça para baixo. Tal feito carrega seu próprio sobrenome, algo marcante na modalidade.
Excelente no que faz, Juju contou que recebe muitos comentários sobre a dificuldade em realizar o movimento. Com seu jeito singelo, a medalhista olímpica até tentou explicar, mas a melhor maneira é vê-la exibindo todo seu talento na trave. “Eu treinei muito tempo para fazer um elemento. Foi um momento muito gratificante. Até hoje eu reconheço que são poucas atletas que têm um movimento com seu nome. Tento levar de maneira leve“.
Medalhista olímpica aos 18 anos, Julia Soares sabe que a pressão virá nos próximos desafios. Mas ela se mostra preparada em todos os sentidos. Carismática, talentosa e com uma base familiar sólida, Juju tem um caminho lindo pela frente, que pode até contar com obstáculos, mas quem se equilibra na trave nasceu para subir ao pódio e deixar seu nome marcado na história do esporte brasileiro.