Recentemente, representantes de clubes importantes como Fluminense, São Paulo, Fortaleza, Internacional, Vasco, Atlético-GO, Flamengo e Palmeiras estiveram presentes em uma reunião para discutir um tema crucial para a saúde financeira do futebol brasileiro: o Fair Play Financeiro. Este conceito, que já é uma realidade nas ligas europeias, promete soluções para os constantes atrasos de pagamentos e salários, problemas recorrentes nos nossos clubes.
Mas afinal, o que é o Fair Play Financeiro? De maneira simples, trata-se de um conjunto de regras que visa o controle financeiro dos clubes, garantindo que eles se tornem sustentáveis no longo prazo. Essas regras auxiliam os clubes a honrar seus compromissos com outros clubes, funcionários e até mesmo com o Estado. Para entendermos melhor, vamos nos aprofundar um pouco mais neste assunto tão relevante para o nosso futebol.
O que é o Fair Play Financeiro?
A premissa básica do Fair Play Financeiro é que um clube não pode gastar além do que arrecada. Controlar as dívidas, evitar atrasos salariais e operacionais são partes fundamentais dessas regras. No cenário europeu, por exemplo, a Uefa adota este sistema desde 2009, com várias atualizações ao longo dos anos.
Segundo o economista Cesar Grafietti, que apresentou um projeto de Fair Play Financeiro à CBF em 2019, “um clube não pode gastar além do que arrecada, não pode ter problema de dívidas, não pode ter atraso de salários“. O objetivo é claro: manter os clubes saudáveis financeiramente. A Uefa, por exemplo, estipula um limite de até 60 milhões de euros em prejuízos acumulados por três temporadas, sendo flexível até 90 milhões de euros se houver aporte dos acionistas.
Onde o Fair Play Financeiro já é aplicado?
As principais ligas europeias operam sob regras rigorosas de controle financeiro, cada uma com suas peculiaridades:
- La Liga: Limite de gastos com salários a 70% das receitas orçadas. A dívida líquida não pode superar as receitas totais e o saldo entre contratações e vendas de jogadores deve ser menor que 100 milhões de euros.
- Premier League: Permite um prejuízo acumulado de até 15 milhões de libras em três temporadas, podendo chegar a 105 milhões de libras com aporte dos acionistas.
- Uefa: Implementou o Fair Play Financeiro em 2009, exigindo declarações periódicas de que não há atrasos em pagamentos. O limite de prejuízos é de 60 milhões de euros por três temporadas, com flexibilidade até 90 milhões de euros.
Quais as punições para o descumprimento?
Os clubes que não cumprem as regras do Fair Play Financeiro enfrentam punições severas. Na Espanha, por exemplo, clubes podem ser impedidos de registrar novos atletas até regularizarem seu orçamento. A Uefa possui um sistema rígido de sanções, podendo até suspender clubes de competições, como aconteceu com o Milan em 2018 e a Juventus em 2023.
Vale mencionar que recentemente, o Bordeaux foi rebaixado à terceira divisão da França e acabou decretando falência, mostrando a gravidade das consequências do descumprimento das regras financeiras.
Propostas para o Brasil
No Brasil, Cesar Grafietti apresentou à CBF, em 2019, um plano de Fair Play Financeiro que focava no controle de dívidas e gastos. Segundo Grafietti, o objetivo é permitir que clubes menos endividados tenham mais liberdade para investir em salários e contratações. “Temos que fazer um trabalho de controle desse endividamento para que os clubes voltem a ser saudáveis e tenham capacidade de investimento real“, afirmou.
Não adianta um clube ter muita receita se a dívida for tão grande que consome todo o valor arrecadado. O controle de dívida e gastos deve ser combinado para que clubes com pouca dívida possam gastar mais, enquanto clubes endividados precisem cortar gastos até equilibrar as finanças.
Como funcionará o Fair Play Financeiro no Brasil?
Embora as discussões nas comissões de clubes ainda estejam embrionárias, a expectativa é grande. A cada mês, através da Comissão Nacional de Clubes, novas reuniões são marcadas para tentar moldar um Fair Play Financeiro à brasileira. A ideia é trazer mais transparência e sustentabilidade financeira para o futebol nacional, garantindo um futuro mais promissor para os clubes e seus torcedores.
A implementação do Fair Play Financeiro no Brasil pode ser a chave para resolver um problema histórico e frequente nos clubes brasileiros: o atraso no pagamento de salários. Agora, resta acompanhar as próximas etapas e torcer para que esse projeto saia realmente do papel.